De acordo com o Censo 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), quase 46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, declarou ter alguma deficiência físicaou intelectual – pessoas que não conseguem se locomover representam 2,3% dos brasileiros. É uma quantidade razoável de pessoas, mas, segundo muitas mulheres cadeirantes, elas se sentem invisíveis.
A internet, no entanto, está mudando um pouco o jogo. Tabata Contri, por exemplo, se tornou cadeirante aos 20 anos, após um acidente de carro. Antes disso, ela mal tinha tido contato com pessoas com deficiência. “Estudava em uma escola que tinha uma sala para essas pessoas, mas ela ficavam escondidas. Nunca brinquei com uma quando criança, nunca convivi”. Por isso, Tabata, atualmente consultora da agência Talento Incluir, em que trabalha para encontrar empregos para pessoas com deficiência, percebe a importância da internetpara a construção da autoestima de mulheres como ela. “Começamos a conversar, trocar vivências e a falar de nossas vidas. Imagina a importância disso para uma menina que cresceu sem ver outras meninas como ela?”.
É por isso que Maria Paula faz questão de mostrar o seu corpo em suas redes sociais. “Falei em um dos posts sobre o 'corpo de verão'. Já vimos muito sobre a mulher gorda na praia, mas a cadeirante também tem suas questões. Eu já deixei de usar uma saia porque tinha vergonha das minhas pernas. Passei calor por isso”, fala a fotógrafa. “É importante que outras pessoas vejam corpos diferentes do padrão para que elas se sintam à vontade para mostrar as pernas também.”
Reclusão, superproteção e opressão
Essa falta de acesso “ao mundo lá fora”, onde há vários tipo de pessoas, é, segundo Tabata, um dos principais fatores de exclusão de cadeirantes. “Muitas vezes as famílias, na melhor das intenções, super protege essas pessoas, não as deixam sair. Elas são infantilizadas”, afirma. Isso tem um impacto profundo na construção de autoimagem das mulheres com deficiência.LEIA TAMBÉM: A pele que habito: Vanessa Giacomo, a atleta paralímpica Cláudia Santos, a blogueira Jéssica Ipólito e Xênia e Tiê contam da relação com seus corpos e de como suas histórias foram moldadas por eles
Ao mostrar que curte a balada, curte na rua e tem autonomia para viver a vida com plenitude, Ivone ajuda outras mulheres deficientes a deixar a superproteção da família. O cuidado excessivo é visto, pela influenciadora, como uma forma de opressão. “Precisamos sair de casa e impor a nossa presença, arrancar pela raiz a discriminação. Isso não acontece de forma natural na vida das mulheres com deficiência como acontece com as nossas iguais sem deficiência.”
“Cadeirante não tem prazer”
Lésbica e adepta do BDSM, em que é dominadora, Ivone diz que ainda ouve comentários sobre sua sexualidade. “Alguns desavisados me perguntam se eu gosto de sexo”, diz. Maria Paula complementa que a desinformação é o que leva mulheres cadeirantes sofrerem preconceito na hora da paquera. “Precisamos mostrar que nós namoramos, fazemos sexo, sentimos prazer. As pessoas tendem a ver a deficiência como algo negativo, mas é apenas uma característica nossa. Eu e minhas amigas já ouvimos muitas vezes: ‘Você é tão bonita, pena que é cadeirante’. Isso mexe demais com a gente”, diz a fotógrafa, que procura fazer fotos de si mesma e de outras pessoas para mostrar que estar em uma cadeira de rodas não é o fim do mundo. “Não é algo que me impede de ser linda. O que a minha deficiência tem a ver com a minha beleza?.”
Fonte https://revistatrip.uol.com.br/tpm/mulheres-deficientes-e-autoestima-como-a-internet-ajuda-cadeirantes-a-se-sentirem-mais-bonitas
Postado por Antônio Brito
Nenhum comentário:
Postar um comentário