O acessório provocou infecção na medula óssea da brasiliense e a deixou dependente de cadeira de rodas
iniciar a vida profissional e concretizar o sonho de viajar pelo mundo. Inesperadamente, ela viu seus planos serem interrompidos por um grave problema de saúde: uma infecção na medula óssea causada após colocar um piercing no nariz.
Aos 22 anos, a moradora de Planaltina não se culpa. Pelo contrário. Lança luz à efemeridade da existência. “Tudo que somos e conhecemos pode mudar em um piscar de olhos. Foi o que aconteceu comigo. Decidi colocar o piercing em junho de 2018. Uma semana após a aplicação, notei uma bolinha vermelha ao lado do acessório. Não levei a sério por deduzir ser uma espinha. Mal sabia que aquele era o primeiro indício de uma severa infecção”, rememora.
Em uma semana, a suposta espinha desapareceu, mas outro sintoma, mais intenso e doloroso, veio à tona. “Comecei a sentir fortes dores nas costas e no pescoço. Creditei o desconforto a uma noitada de curtição que tive com as amigas. Nunca imaginei que o incômodo pudesse estar atrelado ao acessório”, revela.
A intensidade dos incômodos se agravou. Layane decidiu ir ao médico pela primeira vez após a aplicação do adereço. “Fizeram um raio-X, que não apontou nada, mas eu sentia muita dor”. Ela tomou um coquetel de remédios e uma injeção para aliviar o mal-estar e voltou para casa, sem grandes respostas em relação às possíveis causas do desconforto.
Dias depois, após se consultar com outros médicos e, mesmo assim, não se sentir melhor, a jovem sentiu as pernas fraquejarem e pediu ajuda à mãe para tomar banho. Em seguida, foi a uma igreja perto de casa. Espirituosa, pediu para que o desconforto cessasse. “Quando voltei, a dor estava insuportável. Deitei e dormi. Quando acordei, naquela tarde, não senti mais as minhas pernas.”
Naquele momento, a jovem foi levada às pressas ao Hospital de Base, onde há melhores equipamentos, se comparado ao Hospital Regional de Planaltina, frequentado por ela anteriormente. No centro de saúde, fizeram uma bateria de exames e identificaram uma infecção pela bactéria Staphylococcus aureus, que pode causar mazelas em diferentes níveis ao atingir a corrente sanguínea. À época, a jovem não podia suspeitar que aquele era o início de uma jornada de 57 dias de internação.
Layane passou por uma ressonância magnética que alertou a presença de 500 mililitros de pus em três vértebras da medula espinhal. Ela passou por uma cirurgia de urgência para a retirada do líquido. Após a intervenção cirúrgica, foi diagnosticada com paralisia nas pernas.
“Estava muito assustava e sem saber o que havia motivado a paralisia. Só associei a lesão ao piercing quando o médico perguntou se tive alguma ferida recente no nariz, porque essa bactéria é comumente desenvolvida nas fossas nasais. Foi então que contei a ele que havia colocado o acessório, no mês anterior”, recorda.
O quadro começou a fazer sentido para Layane quando ela se lembrou de ter tido sangramento no momento da perfuração do piercing, fato que indica que o profissional que aplicou o acessório atingiu um de seus vasos sanguíneos. Outro detalhe que, até então, havia passado despercebido por ela era a qualidade da joia. “Quando mostrei a peça ao médico, ele afirmou que tratava-se de uma bijuteria enferrujada”, relembra.
Segundo o infectologista Alberto Chebabo, do Laboratório Exame, um piercing, mesmo esterilizado, pode ser a porta de entrada ideal para bactérias como a Staphylococcus aureus, um micro-organismo invasivo que, em casos severos, pode causar septicemia (infecção generalizada).
Essa bactéria ganhou grande destaque na mídia ao causar a morte de Arthur Araújo Lula da Silva, 7 anos, neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2019. O menino faleceu justamente por uma infecção generalizada provocada pelo micro-organismo.
Após os quase dois meses de internação, Layane teve que reaprender a viver na cadeira de rodas. “Sempre fui muito vaidosa e não pensei que poderia ser plenamente feliz sem andar. Mas o incidente veio acompanhado de muita maturidade. Revi vários conceitos e me tornei uma pessoa melhor. Hoje, posso dizer que a minha menor mudança foi a paralisia”, diz.
Apesar de perder o namorado – que não deu apoio à companheira -, ver a mãe largar o emprego para cuidar dela e interromper o curso universitário de Recursos Humanos, a jovem mantém sorriso fácil e otimismo. Compartilha toda essa boa energia no Instagram, rede social na qual é seguida por 55 mil pessoas.
“Decidi relatar o meu caso e abrir o meu perfil quando completei seis meses como paraplégica. O resultado? Dormi com dois mil seguidores e acordei com 16 mil. Muitas pessoas se chocaram e compartilharam a minha história, que viralizou. Daí em diante, a página só prosperou.”
Além de dividir o dia a dia e receber mensagens motivacionais na plataforma, Layane se ampara no esporte para sentir-se bem e resgatar a autoestima. Pratica handebol, natação e basquete ao lado de outros cadeirantes. Faz, também, sessões frequentes de fisioterapia. Contrariando as expectativas médicas, ela crê que voltará a andar.
Ela vive com a mãe, o tio e avó em uma casa em Planaltina, uma das regiões mais carentes do Distrito Federal, segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). Atualmente, a única renda da família é a aposentadoria da anciã.
A bacharel em direito Fernanda Lisboa, 24, é uma das jovens que vivenciou o problema. Após aplicar o quinto adorno no corpo, desta vez orelha, a brasiliense sentiu a região vermelha, inchada e latejando no dia seguinte à aplicação. “Como estava acostumada com piercings, sabia que a reação não era normal. Tirei a joia, mas as dores não amenizaram”.
“Tomei diversos antibióticos e drenei a orelha algumas vezes, mas nada resolvia permanentemente. Até que tive que ser internada. Passei 12 dias no hospital e fiz uma cirurgia para retirada da cartilagem necrosada”, conta. Os médicos acreditam que o problema, manifestado tão rapidamente, tenha sido provocado por falta de higiene por parte do profissional que realizou a perfuração
De acordo com o especialista, outra dica importante é não descuidar em casa. “Em alguns casos, os clientes adquirem infecções pelo mal cuidado em domicílio. Por isso, é extremamente relevante atentar-se à higienização”, finaliza.
Para quem curte o acessório, mas tem receio de furar, uma boa opção são os piercings de pressão, encontrados facilmente em joalherias e lojas de bijuteria país afora.
A reação extremamente rara à perfuração, amplamente realizada por jovens e adultos para fins estéticos, quase tirou a vida da brasiliense. Como sequela, a deixou refém de cadeira de rodas. Em entrevista ao Metrópoles, Layane lembra o episódio que chama de “divisor de águas”, e conta como resgatou a autoestima com a ajuda do esporte e das redes sociais.
ARQUIVO PESSOAL
Em uma semana, a suposta espinha desapareceu, mas outro sintoma, mais intenso e doloroso, veio à tona. “Comecei a sentir fortes dores nas costas e no pescoço. Creditei o desconforto a uma noitada de curtição que tive com as amigas. Nunca imaginei que o incômodo pudesse estar atrelado ao acessório”, revela.
A intensidade dos incômodos se agravou. Layane decidiu ir ao médico pela primeira vez após a aplicação do adereço. “Fizeram um raio-X, que não apontou nada, mas eu sentia muita dor”. Ela tomou um coquetel de remédios e uma injeção para aliviar o mal-estar e voltou para casa, sem grandes respostas em relação às possíveis causas do desconforto.
Dias depois, após se consultar com outros médicos e, mesmo assim, não se sentir melhor, a jovem sentiu as pernas fraquejarem e pediu ajuda à mãe para tomar banho. Em seguida, foi a uma igreja perto de casa. Espirituosa, pediu para que o desconforto cessasse. “Quando voltei, a dor estava insuportável. Deitei e dormi. Quando acordei, naquela tarde, não senti mais as minhas pernas.”
Cinquenta e sete dias de internação
Layane passou por uma ressonância magnética que alertou a presença de 500 mililitros de pus em três vértebras da medula espinhal. Ela passou por uma cirurgia de urgência para a retirada do líquido. Após a intervenção cirúrgica, foi diagnosticada com paralisia nas pernas.
“Estava muito assustava e sem saber o que havia motivado a paralisia. Só associei a lesão ao piercing quando o médico perguntou se tive alguma ferida recente no nariz, porque essa bactéria é comumente desenvolvida nas fossas nasais. Foi então que contei a ele que havia colocado o acessório, no mês anterior”, recorda.
“Ao ouvir minha resposta, ele disse: o adereço foi a porta de entrada da bactéria no seu corpo. Aquelas palavras me deixaram devastadas”, relata.
Segundo o infectologista Alberto Chebabo, do Laboratório Exame, um piercing, mesmo esterilizado, pode ser a porta de entrada ideal para bactérias como a Staphylococcus aureus, um micro-organismo invasivo que, em casos severos, pode causar septicemia (infecção generalizada).
“Casos como o dessa paciente são raros, mas possíveis. Muitos subestimam as complicações de um piercing. Não deveriam. Além de realizar o procedimento em estúdio seguro, é preciso ter atenção à limpeza em casa para garantir a cicatrização correta”, alerta o especialista.
Nova vida
“Quando estava prestes a sair do hospital, uma psicóloga veio conversar comigo. Contei a ela que tinha medo dos outros sentirem pena de mim. Foi quando ela me disse: ‘as pessoas só sentem pena de cadeirantes tristes. Por isso, demonstre alegria’. Aquilo mexeu comigo.”Após os quase dois meses de internação, Layane teve que reaprender a viver na cadeira de rodas. “Sempre fui muito vaidosa e não pensei que poderia ser plenamente feliz sem andar. Mas o incidente veio acompanhado de muita maturidade. Revi vários conceitos e me tornei uma pessoa melhor. Hoje, posso dizer que a minha menor mudança foi a paralisia”, diz.
Apesar de perder o namorado – que não deu apoio à companheira -, ver a mãe largar o emprego para cuidar dela e interromper o curso universitário de Recursos Humanos, a jovem mantém sorriso fácil e otimismo. Compartilha toda essa boa energia no Instagram, rede social na qual é seguida por 55 mil pessoas.
“Decidi relatar o meu caso e abrir o meu perfil quando completei seis meses como paraplégica. O resultado? Dormi com dois mil seguidores e acordei com 16 mil. Muitas pessoas se chocaram e compartilharam a minha história, que viralizou. Daí em diante, a página só prosperou.”
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“Tenho muitos sonhos. Quero voltar a andar, conhecer o mundo, terminar o curso de Recursos Humanos e me tornar uma porta-voz de superação. Este é só o começo”, acredita.Até pouco tempo, Layane não planejava tomar nenhuma medida contra o profissional responsável por colocar o piercing. No entanto, reavaliou a postura e, agora, cogita processá-lo. “Eu optei por não falar sobre ele até o momento. Pensava: ‘isso não me fará voltar a andar’. Porém, venho analisando a possibilidade de mover um processo com a ajuda de um advogado. Afinal, outros clientes podem estar correndo risco e, caso ganhe, a indenização ajudará nos custos dos meus tratamentos”, afirma.
Ela vive com a mãe, o tio e avó em uma casa em Planaltina, uma das regiões mais carentes do Distrito Federal, segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). Atualmente, a única renda da família é a aposentadoria da anciã.
Cuidados redobrados
O quadro de Layane Dias é extremo, mas sequelas um pouco menos graves, como deformidades, não são incomuns em pacientes com piercings inflamados.A bacharel em direito Fernanda Lisboa, 24, é uma das jovens que vivenciou o problema. Após aplicar o quinto adorno no corpo, desta vez orelha, a brasiliense sentiu a região vermelha, inchada e latejando no dia seguinte à aplicação. “Como estava acostumada com piercings, sabia que a reação não era normal. Tirei a joia, mas as dores não amenizaram”.
“Tomei diversos antibióticos e drenei a orelha algumas vezes, mas nada resolvia permanentemente. Até que tive que ser internada. Passei 12 dias no hospital e fiz uma cirurgia para retirada da cartilagem necrosada”, conta. Os médicos acreditam que o problema, manifestado tão rapidamente, tenha sido provocado por falta de higiene por parte do profissional que realizou a perfuração
À época, o episódio afetou drasticamente a autoestima de Fernanda. “Com o tempo, aprendi a lidar com a situação e, atualmente, sou muito bem resolvida com ela. Só não quero mais saber de piercings”, garante, afirmando que não cogita realizar cirurgia reparadora para melhorar a estética da orelha.GUI PRIMOLA/METRÓPOLES
Cícero Freitas, profissional com 35 anos de experiência em tatuagens e piercings e dono do estúdio Cicero Tattoo, dá alguns conselhos para evitar problemas com a perfuração. “É muito importante escolher um estúdio de confiança e que siga as regras de assepsia”, aconselha.De acordo com o especialista, outra dica importante é não descuidar em casa. “Em alguns casos, os clientes adquirem infecções pelo mal cuidado em domicílio. Por isso, é extremamente relevante atentar-se à higienização”, finaliza.
Para quem curte o acessório, mas tem receio de furar, uma boa opção são os piercings de pressão, encontrados facilmente em joalherias e lojas de bijuteria país afora.
GUI PRIMOLA/METRÓPOLES
Fonte https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/comportamento/layane-dias-fiquei-paraplegica-por-causa-de-um-piercing
Postado por Antônio Brito
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