Foi na praia do Francês (no município de Marechal Deodoro, na Grande Maceió) que a administradora gaúcha Cristiane Bittencourt Viana, 36, realizou um sonho: tomar banho de mar. Cristiane teve problemas no parto, que resultou em paralisia cerebral, atingindo sua parte motora — o que traz dificuldade para caminhar.
Eram 14 horas da sexta-feira (17), sob o sol escaldante do Nordeste e o mar calmo da praia do Francês, que Cristiane pôde viver um momento "inexplicável", segundo ela.
O momento emocionante foi acompanhado por Ecoa. "Quando era pequenina, até entrava, mas no colo. No geral, só ficava ali na areia. Não entrava no mar assim, tinha medo de cair, de me afogar. Entrar agora foi inexplicável, não sei dizer o que senti. Foi muito bom", contou Cristiane após deixar o mar.
O passeio foi guiado por João de Barros, que coordena o projeto. Além de levar a cadeira para o empréstimo, ele é quem guia e ajuda no banho. "A cadeira é muito boa e segura. É muito importante a gente chegar na cidade e ser acolhida, que tem cuidado em ter uma cadeira dessas. É muito legal, mesmo", relata a cadeirante.
Maceió disponibiliza seis cadeiras anfíbias a quem solicitar, por um período de até sete dias. Elas podem ser solicitadas não só por turistas, mas também por moradores locais.
Primeiro passeio em parqueAs cadeiras anfíbias não servem apenas para banho de mar. Foi com uma cadeira dessas que a pernambucana Maria Luiza, 11, conseguiu aproveitar pela primeira vez na vida um parque aquático, também na sexta-feira, em Maceió.
"Foi ótima a experiência. Ela esteve incluída no meio de adultos e crianças, sem a menor diferença. Isso sim é inclusão de verdade", conta a avó da criança, a professora Eliece Arruda, 55.
A avó diz que o passeio para a capital alagoana foi marcado após seis meses de sofrimento da criança, e o projeto de empréstimo das cadeiras foi determinante para escolha do destino da viagem de férias.
"Foram processos cirúrgicos, UTI, confinamento pós cirúrgicos. Pensamos em vir para alegrar mais os dias de Malu. Foi quando encontramos uma postagem no Facebook que falava sobre este programa. De imediato procurei contato com o setor responsável, e quando liguei fui atendida e, sem burocracia, foi agendada a entrega da cadeira", afirma.
Maria Luiza é portadora de miopatia congênita central, um tipo de fraqueza muscular com escoliose precoce progressiva. "Devido à fraqueza muscular, ela não consegue ficar de pé, nem tocar a cadeira de rodas manual", diz a avó.
A menina foi submetida a 16 procedimentos cirúrgicos. Em 2020, ela vai cursar 6° ano do ensino fundamental em Paulista, na Grande Recife. "Lá em Pernambuco já utilizamos um serviço similar na praia de Porto de Galinhas. Tem um ponto de apoio onde eu me direciono e utilizo os serviços, como passeio de jangada até as piscinas naturais, com auxílio de monitores. Porém, com o serviço de empréstimo ao usuário, foi a primeira vez", explica.
Postagem fez projeto viralizarO projeto das cadeiras ficou conhecido fora de Alagoas após a postagem da consultora paulista Katya Hemelrijk da Silva, 43, no início do mês, agradecendo pelo empréstimo da cadeira viralizar.
"Não tinha a menor ideia de repercussão. Postei no sábado (4) à noite, quatro dias depois de retornar do passeio. Não sou muito ativa nas redes sociais, postei como agradecimento pelo que tinha acontecido. Mas quando vi começou a repercutir, páginas publicaram. Muita gente procurou, perdi as contas de quantas mensagens respondi com pedidos de informações do projeto. Foi maravilhoso ver que as pessoas se interessam por coisas lindas."
O secretário de Turismo, Esporte e Lazer de Maceió, Jair Galvão, afirma que o projeto das cadeiras anfíbias está antenado com a prática do turismo acessível, que cresce em todo o planeta. "Cada vez mais pessoas com alguém que tem alguma deficiência viajam, e escolhem para turismo locais com passeios com infraestrutura, produtos e serviços para sua necessidade", diz.
Ele afirma que a meta é divulgar Maceió como uma cidade com grande oportunidade para pessoas com deficiência. "A hotelaria de Maceió já possui quartos adaptados, corredores largos e serviços específicos. Também temos aqui o mergulho submarino adaptado. Então estamos integrados a todo esse contexto moderno. É inclusivo", afirma.
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