21/01/2020

Oficina de Música inclusivaViolinista luta pela formação profissional de músicos cegos


Violinista luta pela formação profissional de músicos cegos. - Foto Cido Marques
Violinista luta pela formação profissional de músicos cegos. - Foto Cido Marques
 Trocar o caráter terapêutico do ensino da música para pessoas com deficiência visual pela formação artística profissional é a batalha do violinista e professor Luiz Alberto Amorim de Freitas. Ele é um dos convidados para ministrar cursos na 37ª Oficina de Música de Curitiba (15 a 26 de janeiro), que pela primeira vez, abrirá também palcos para apresentações inclusivas.
“Curitiba tem tudo para que isso aconteça, já que é uma cidade muito receptiva tanto pelos espaços de espetáculos como pelos gestores culturais”, diz Amorim.
Há sete anos o professor trocou o Rio de Janeiro por Curitiba. Ele se fixou na cidade para cursar licenciatura em Música na Universidade Federal do Paraná, onde se formou em 2015.
A militância do violinista pela formação igualitária dos músicos que não enxergam começou no ano seguinte, quando passou a dar aulas no Instituto Paranaense de Cegos (IPC). Lá desenvolve o projeto Música Tátil, iniciativa de formação musical inicial para pessoas cegas ou, como ele, que nasceu com baixa visão. Foi o que aproximou seu público da área cultural da Prefeitura de Curitiba.
Em 2017, a Capela Santa Maria, sala de concertos da Prefeitura que é sede da orquestra de câmara da Camerata Antiqua, abriu as portas para uma série de espetáculos inclusivos que contribuíram para o projeto.
“Fomos recebidos com os programas dos concertos em braille. E tem sido assim, quando somos convidados ou manifestamos interesse”, conta o professor, referindo-se ao cuidado observado com o público com deficiência visual pelo Instituto Curitiba de Arte e Cultura (Icac) - órgão gestor do espaço cultural. 
Da plateia para o palco: em agosto passado, Luiz Amorim retornou à Capela Santa Maria em condições especiais. Em vez da plateia, estava no palco. Foi músico convidado da Orquestra Nova de música contemporânea, do maestro Gabriel Hermes.
“Foi muito emocionante e um desafio mesmo para mim, que me eduquei para não ver”, lembra o professor e instrumentista de 36 anos, que se apaixonou pelo violino na infância.
Para estar no palco curitibano, porém, as exigências eram outras. Tratou de pedir ajuda ao Setor de Musicografia Braille e Apoio à Inclusão da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e conseguir a transcrição da sinfonia escrita por Hermes. A instituição potiguar é, até agora, a única a executar esse trabalho.
Obtida a partitura, tratou de decorá-la com cada período de pausa, familiarizou-se com as partes da música que cabia aos demais instrumentos e, como não pode ver os comandos do maestro, ficou atento ao desempenho dos instrumentos mais próximos.
“O público só soube que eu era cego porque entrei apoiado no Hermes e, nos momentos de pausa do violino, percorria com os dedos a partitura, impossível de acessar durante a execução do instrumento”, conta.
Foi uma saga desde que conseguiu seu primeiro violino, doado pela mãe de uma professora do Instituto Benjamin Constant - instituição carioca destinada ao ensino de pessoas com deficiência visual onde ele começou a se familiarizar com a música por meio flauta doce. Com ele, pode estudar e se preparar para as provas do conceituado Instituto Villa-Lobos. “Fui o primeiro cego a entrar lá”, conta.

Obstáculos à acessibilidade

O processo de preparação para o concerto em Curitiba, explica Amorim, resume a dificuldade de acesso das pessoas com deficiência visual à música profissional. Isso porque, para cursar o ensino superior, os estudantes precisam dominar teoria musical - exigência das prévias dos exames em todas as universidades.
Para se prepararem para as provas, precisam ter acesso às partituras em braille que, por sua vez, só podem ser impressas depois de transcritas a partir das versões impressas. Como ainda não existem softwares que façam isso, o trabalho exige a intervenção de um músico que enxergue e conheça braille para fazer a transcrição e de um cego que leia partitura para fazer a revisão.
 “Por isso eu quero muito que os gestores do Icac conheçam o trabalho da Escola de Música do Rio Grande do Norte. É, com certeza, uma fonte de inspiração para Curitiba”, diz o musicista, que vai encerrar sua participação na Oficina de Música com uma apresentação pública resultante do curso de Prática de Conjunto, para instrumentistas e cantores com deficiência visual.
“Vamos vivenciar todo o processo de preparação de uma banda desde a escolha do repertório até a execução”, adianta Luiz Amorim, que durante o evento também dará aulas de Fundamentos do Sistema Braille e da Musicografia Braille. A expectativa é que o trabalho seja acompanhado por observadores estrangeiros e de outros estados e tenha a participação de participantes dos cerca de 100 grupos brasileiros de whatsapp de músicos deficientes visuais dos quais ele participa.

Parceiros

A 37ª Oficina de Música de Curitiba é uma realização da Prefeitura de Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba, do Instituto Curitiba de Arte e Cultura (Icac), Ministério da Cidadania, da Secretaria Especial da Cultura e governo federal.
O evento tem patrocínio máster da Caixa Econômica Federal, apoio cultural da Família Farinha e Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) e apoio master do Teatro Guaíra e Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 
Fonte  https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/violinista-luta-pela-formacao-profissional-de-musicos-cegos/54559
Postado por Antônio Brito 

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