AAPPE aponta problemas que surgem pela falta de suporte dos órgãos, em relação ao tratamento de pessoas com deficiência, nas medidas contra Covid-19
Segundo instituição, consultas não foram suspensas, mas muitos não querem correr o risco de contrair o novo coronavírus, preferindo ficar sem o tratamento
FOTO: ASCOMApesar de, nesse domingo (22), Alagoas não ter registrado novos casos de Covid-19, não se pode esquecer da responsabilidade social para como um todo, extremamente necessária no combate ao avanço do novo coronavírus. Todos os dias, a sociedade vem sendo alertada sobre os cuidados que precisa tomar e que os chamados 'grupo de risco', em especial, precisam ter. Contudo, nesses nichos, as autoridades da saúde deixaram escapar um: o das pessoas com deficiência, o que tem gerado diversos transtornos.
A situação é preocupante pela exposição a que esses pacientes são submetidos, uma vez que, por não serem considerados parte do grupo de risco, seus tratamentos não foram suspendidos por parte dos órgãos públicos. De um lado, eles precisam do isolamento social, de outro, os cuidados precisam ser mantidos e não há apoio para que isso aconteça.
Através de convênio com o SUS e com a Secretaria de Saúde de Alagoas (Sesau/AL), a Associação dos Amigos e Pais de Pessoas Especiais (AAPPE) oferece atendimento para as reabilitações física, intelectual e auditiva em sete unidades, distribuídas na capital e no interior do Estado. São quatro unidades em Maceió; duas no município de Santana do Ipanema, com a unidade Sertão e uma na cidade de Penedo, com a unidade Baixo São Francisco.
Seguindo a recomendação do Ministério da Saúde (MS), muitos usuários da instituição estão mantendo-se em isolamento doméstico. Com receio de entrar para a lista de casos infectados pelo novo coronavírus, os familiares de usuários e os próprios usuários acabam faltando ao atendimento multidisciplinar desenvolvido com eles pela instituição.
A coordenadora do Centro Especializado em Reabilitação (CER) da AAPPE de Maceió, Mariana Marques, deu detalhes sobre a situação. "Assumindo a nossa responsabilidade e compromisso com a sociedade, estamos orientando que eles não venham, todos os usuários hipertensos, diabéticos, as nossas crianças, os que têm problemas respiratórios. Isso, obviamente, diminui a nossa amostra de usuários. Além de que os próprios usuários, diante da situação, não estão vindo. Mesmo os jovens e adultos, que teoricamente não estão no grupo de risco, também não estão vindo, por conta própria", contou.
Há casos em que os usuários residem no interior do Estado e não conseguem se dirigir às unidades de atendimento da AAPPE. Os veículos de transporte disponibilizados pelo município em que moram para realização das consultas na instituição não estão sendo liberados, também em prevenção ao Covid-19.
A instituição se vê num impasse, visto que possui diversos usuários idosos com deficiência, usuários com condições genéticas e neurológicas delicadas, restrições físicas ou dificuldades de comunicação e locomoção, e que precisam de cuidados e atendimentos específicos. Ainda assim, a AAPPE está impedida de realizar a liberação desse público para o isolamento doméstico, onde poderiam manter-se mais seguros contra a contaminação do vírus.
Se decidir pela liberação e suspensão dos atendimentos de reabilitação, a associação será penalizada com o corte no repasse dos recursos, já que o Ministério da Saúde ainda não se posicionou sobre a condição e a situação das pessoas com deficiência em meio a disseminação do Covid-19 no País.
Mariana Marques falou que em algumas unidades da AAPPE, o repasse de recurso ocorre a partir dos atendimentos que são realizados. No entanto, com a ausência dos usuários, em razão da prevenção ao coronavírus, o pagamento dos funcionários da instituição fica comprometido.
"Na nossa unidade do Farol, o trabalho acontece por produção. Então, a gente não vai bater a meta lá. Deveria ficar garantido o repasse, independente dessas metas. Nós gostaríamos de liberar todos os usuários e colaboradores, porém se fizermos isso, de forma independente, corremos o risco de não receber o repasse da secretaria e, consequentemente, não teria como pagar os seus funcionários", explicou a coordenadora do CER.
"Os funcionários estão todos temerosos, porque os filhos já estão em quarentena, foram liberados das escolas. Mas os pais vêm trabalhar, correndo o risco de contaminação e disseminar ainda mais o vírus', lamentou Mariana.
SEM ASSISTÊNCIA
A presidente da associação, Iraê Cardoso, expressou sua preocupação quanto a falta de assistência e o silêncio do Governo Federal em relação às pessoas com deficiência em meio à evolução do Covid-19.
"Infelizmente, a secretaria municipal não está autorizando que a instituição suspenda os atendimentos para este público. Nós temos uma equipe imensa de terapeutas e médicos para pagar e temos que produzir, temos que atender, mas como vamos fazer isso se os próprios usuários não estão vindo para se proteger, para se resguardar? A campanha do Ministério da Saúde é clara e diz para que as pessoas fiquem em casa. É isto que eles estão fazendo", explicou.
Iraê questionou o posicionamento do poder público quanto ao suporte às pessoas com deficiência. "Nós estamos falando de uma coisa que está afetando o mundo. O governo já informou que serão penalizados quem não seguir as orientações do Ministério da Saúde. Então, eu quero saber o que é que a Coordenação Nacional da Pessoa com Deficiência e o que o Ministério da Saúde vão fazer com as pessoas com deficiência? Esse público precisa ainda mais de atenção e cuidados", disse ela.
Segundo a presidente da AAPPE, na última reunião realizada pelo Conselho Municipal da Saúde, foi repassado que ainda não há motivos para preocupação. "Não é isso que o ministro Mandetta está falando não. O governo tem que se posicionar. O Ministério da Saúde tem que se posicionar em relação às pessoas com deficiência e ao programa do CER, porque é um programa federal, não é municipal", declarou.
Fonte https://gazetaweb.globo.com/portal/noticia/2020/03/_100697.php
Postado por Antônio Brito
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