22/03/2020

Coronavírus: atletas paralímpicos dão um jeito de treinar em casa e redobram os cuidados



Por Bruna Campos e Joanna de Assis — São Paulo


Para evitar aglomerações e cumprir as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) diante da pandemia do coronavírus, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) anunciou a suspensão das competições nacionais e encerrou as atividades no centro de treinamento na última segunda-feira. Neste contexto, os atletas tiveram que dar um jeito e adaptar da rotina de treinos: a sala de casa virou academia, a piscina das crianças virou raia e até um terreno baldio foi escolhido para treinos de arremesso de peso.
Receio de contágio do novo coronavírus afeta atletas paralímpicos do Brasil

Receio de contágio do novo coronavírus afeta atletas paralímpicos do Brasil
- O Centro de Treinamento fechou devido ao coronavírus, mas não podemos ficar parados. A gente tem que estar preparado - disse Phelipe Rodrigues, nadador da classe S10.
Ao redor do mundo, foram cancelados 42 eventos-teste e torneio classificatórios paralímpicos. Mas a maior preocupação não é mais com índices ou vagas. Entre os atletas paralímpicos, a chance de complicações em caso de infecção por coronavírus é maior e bastante perigosa.
- As pessoas com deficiências apresentam o risco maior, em pesquisas científicas, os atletas paralímpicos tem o dobro de chances de ter doenças que atletas olímpicos, e dessas pelo menos 35% são respiratórias - afirmou Hesojy Gley, coordenador médico do CT Paralímpico Brasileiro.
Os atletas com a maior probabilidade de desenvolver os sintomas mais graves da doença são: pessoas que possuem lesão medular alta, como tetraplégicos, portadores de doenças neurológicas, doenças degenerativas e atletas que passaram por cirurgias neurológicas recentemente.
Susana Schnarndorf é do grupo de risco — Foto: Daniel Zappe / MPIX / CPB
Susana Schnarndorf é do grupo de risco — Foto: Daniel Zappe / MPIX / CPB
A nadador Susana Schnarndorf sofre de uma doença degenerativa que compromete os pulmões. Ela ainda não conseguiu competir este ano por causa da pandemia. No final de fevereiro, junto com a delegação brasileira, ela chegou a viajar para a Itália para disputar uma etapa do Circuito Mundial de Natação. Mas, com o aumento exponencial de casos confirmados da COVID-19 na região da Lombardia, os atletas voltaram para casa sem sequer cair na água.
- A gente chegou a ir a Itália, mas a competição foi cancelada. Eu sou sempre grupo de risco, é mais difícil para mim. Eu vou tomando cuidado, porque é uma doença que ninguém sabe ainda como evolui. Vamos treinando do jeito que a gente pode - contou Susana, nadadora da classe S4.
A velocista Verônica Hipólito também faz parte do grupo de risco. Ela compete no grupo dos paralisados cerebrais e recentemente passou por uma cirurgia para retirada de um tumor cerebral.
- Se eu pego esse vírus, meu corpo não tem como reagir - afirmou a velocista, que precisa repor hormônios essenciais.
Rugby em cadeira de rodas é praticado por atletas tetraplégicos — Foto: Saulo Cruz/EXEMPLUS/CPB
Rugby em cadeira de rodas é praticado por atletas tetraplégicos — Foto: Saulo Cruz/EXEMPLUS/CPB
No caso dos tetraplégicos, a atenção começa com as próprias cadeiras de rodas, que devem ser limpas constantemente para evitar a disseminação do vírus.
- Fazemos parte do grupo de risco, temos sequelas na parte respiratórias e podemos ter sérios problemas. Não estou mais treinando na academia, vou procurar ficar em casa para que esse período mais crítico passe o mais rápido possível - contou Rafael Hoffmann, jogador de rugby em cadeira de rodas.
Em nota, o Comitê Paralímpico Internacional declarou que a saúde e bem estar dos atletas é prioridade. Mas reafirmou que os planos para os Jogos Paralímpicos de Tóquio continuam, e que a abertura segue confirmada para o dia 25 de agosto. O presidente do CPB discorda e é contra a realização da competição nas datas planejadas originalmente.
- Eu entendo que não há qualquer hipótese para o acontecimento dos Jogos Paralímpicos na data prevista. Temos classificação para realizar, os atletas sem treinar, e o futuro é completamente imprevisível. Entendo ainda que seria fundamental uma posição imediata do COI, que na última semana se manifestou encorajando os atletas a treinar, uma mensagem inclusive que vai contra o pedido da OMS, que é para as pessoas se isolarem - afirmou Mizael Conrado, presidente do CPB.
Fonte  https://globoesporte.globo.com/programas/esporte-espetacular/noticia/coronavirus-atletas-paralimpicos-dao-um-jeito-de-treinar-em-casa-e-redobram-os-cuidados.ghtml
Postado por Antônio Brito 

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