(Por João Paulo Pereira – Repórter do Sertão)
“UM DIA MINHA MÃE ENTROU NO QUARTO DO HOSPITAL E PEDI PARA ELA ACENDER A LUZ, ELA RESPONDEU QUE A LUZ ESTAVA ACESA, DIANTE DISSO PEDI PARA ABRIR A JANELA, A REPOSTA FOI QUE A MESMA ESTAVA ABERTA, FOI NESTE MOMENTO QUE ELA PERCEBEU QUE EU ESTAVA PERDENDO A VISÃO.”
A declaração é de quem teve a visão interrompida ainda na infância. Geyza Kerle Silva de Oliveira nasceu em 09 de setembro de 1985 no Sítio Cacimbinha – zona rural de Itapetim, no Sertão do Pajeú, em Pernambuco.
Devido a uma Meningite por Criptococose, Geyza sofreu uma atrofia nos nervos ópticos e perdeu a visão aos nove anos de idade no ano de 1994. Na época que começou a sentir os sintomas da doença foi imediatamente submetida a orientações médicas em Pernambuco e Paraíba, mas nenhum profissional conseguiu diagnosticar o problema que colocava a vida dela em risco.
“Infelizmente nenhum profissional naquela época estava ciente do que poderia ser o problema, fui diagnosticada até como louca, para ter um tratamento de ficar isolada em um quarto escuro”, lembra.
A mãe, Gilvani Pereira da Silva, preocupada com a saúde da filha não desistiu de buscar uma resposta para o problema. Foi aí que a família viajou para São Paulo para tentar encontrar a cura da infecção até então desconhecida.
Muito debilitada e pesando apenas 19 kg com 9 anos, Geyza conta que ouviu de um médico na capital paulista a resposta de que ele não era Deus para fazer milagre, referindo-se ao quadro de saúde da paciente. A situação só começou a mudar depois que uma médica ficou sabendo do caso e resolveu interná-la. Após três meses de internação e muitos exames veio o diagnóstico seguido de um intenso tratamento para combater a doença e salvar a vida da garota, que mais tarde se tornaria a primeira bailarina da Associação Fernanda Bianchini, única companhia profissional de balé de cegos do mundo, localizada em São Paulo.
“Mesmo com as sequelas, enfim sobrevivi, contrariando tudo e a todos”, comemora.
Depois da cura teria início outra longa batalha para superar o trauma de não poder mais enxergar, o que só foi possível graças à descoberta da dança. Mesmo sem a visão, Geyza viu o balé com os olhos do coração e acreditou que a arte seria o caminho para a superação e transformação da sua vida.
O sonho de Geyza antes mesmo de perder a visão era ser bailarina e quando recebeu o diagnóstico de que não iria mais enxergar, seus pais foram orientados a procurar o Instituto de Cegos Padre Chico, uma escola especializada inclusiva, situada no Bairro Ipiranga na capital paulista. No mesmo ano, a Fernanda Bianchini iniciava um projeto de balé para deficientes visuais e a menina sonhadora do sertão pernambucano foi convidada a participar.
“Mesmo em Pernambuco meu sonho sempre foi ser bailarina, mas diante de todo o ocorrido, me sentia muito insegura e perguntei a Fernanda: Como uma pessoa que não enxergava ia fazer movimentos tão bonitos, como aqueles que eu via na televisão? A resposta dela foi: Que eu deveria acreditar em meus sonhos”, contou ao Repórter do Sertão.
Dessa forma a jovem bailarina ingressou no balé. Através da dança nos palcos conseguiu achar o seu espaço dentro da sociedade e mostrar o seu diferencial diante de tantas dificuldades enfrentadas.
“A dança foi quem realmente não deixou com que eu me transformasse numa pessoa revoltada por ter perdido a visão, foi de verdade o meu porto seguro para me fazer cada vez mais forte e feliz”, declara.
Geyza tornou-se a primeira bailarina da Companhia e a primeira professora de balé cega do mundo. O grupo faz apresentações motivacionais em empresas e teatros no Brasil e em outros países. Desde 2005 ela dá aula para deficientes e não deficientes. Até o momento se orgulha de contar com mais de 12 alunas já formadas. Além disso, também é professora no Instituto Padre Chico, onde tudo começou.
Apesar de ter vencido várias batalhas e conquistado grandes vitórias, Geyza não esconde o desejo de realizar sonhos futuros, inclusive no lugar onde nasceu. Um dos desejos da bailarina é conseguir uma oportunidade de se apresentar em Itapetim, sua terra natal.
“Gostaria de dançar em um balé chamado Lago dos Cisnes, mas independente do balé a ser dançado, gostaria muito de dançar na terra que eu nasci, para os meus parentes e amigos”, diz.
Documentário “Olhando para as Estrelas”
Geyza é uma das protagonistas do documentário “Olhando para as Estrelas” de Alexandre Peralta lançado em 2017. A participação dela no filme resume o seu dia a dia dentro e fora do balé, além de retratar diversos acontecimentos importantes em sua vida como, casamento, gravidez, nascimento do filho e retomada da vida profissional.Participação em programas de TV e apresentações no Brasil e em outros países
O trabalho de Geyza juntamente com a Companhia Fernanda Bianchini já rendeu a participação em diversos programas de TV e apresentações em teatros brasileiros e internacionais. Por onde passa, o grupo emociona o público e mostra o poder da superação através da dança.Programas de Televisão:
Xuxa Park – 1999; Jornal Nacional – 2003 e outros anos; Criança Esperança – 2005; Faustão – 2005, 2006 e 2015; Fantástico – 2009 e 2012; Hoje em dia – 2010; Programa do Ratinho – 2014; Conexão Repórter – 2019; Encontro com Fátima Bernardes
Apresentações importantes:
Teatro Municipal de São Paulo em 2005, 2008, 2015 e 2017;
Maracanãzinho – Rio de Janeiro – encerramento do Para Pan-Americano 2007
Palácio das Artes em BH – com a Ana Botafogo – 2009
Buenos Aires – Argentina 2011
Londres – Inglaterra – encerramento das Paraolimpíadas – 2012
Festival de Hagen – Alemanha – 2015
Los Angeles – EUA – 2016
Brave Festival – Polônia – 2016
Gala International – The Art of Elysium – Hollywood – EUA – 2017
Puerto Vallarta – México – 2018
Santiago – Chile – 2019
Fonte http://blogdomarcellopatriota.com.br/blog/?p=24405
Postado por Antônio Brito
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