09/12/2025

Neurocirurgião da Unicamp defende reconhecimento de pacientes com fibromialgia como pessoas com deficiência

Neurocirurgião da Unicamp defende reconhecimento de pacientes com fibromialgia como pessoas com deficiência

Legislação amplia debate sobre inclusão, acessibilidade e a necessidade de validar a condição que afeta milhões de brasileiros

O mês de dezembro, período marcado por agendas voltadas à inclusão e à acessibilidade, o reconhecimento da fibromialgia como condição de deficiência (PCD) no Brasil passa a integrar esse debate.

Desde julho, a Lei nº 15.176/2025 estabelece oficialmente a fibromialgia como condição de deficiência (PCD) no Brasil. A mudança amplia a visibilidade de milhões de pessoas que convivem com a doença que causa dor crônica, enfrentam barreiras diárias para serem reconhecidas pelo sistema de saúde e pela sociedade.

Estima-se que cerca de 3% da população brasileira (o equivalente a 6 milhões de pessoas) tenha fibromialgia, com maior prevalência entre as mulheres, segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR). A legislação garante proteção legal para que pacientes com fibromialgia possam acessar benefícios já previstos para outras deficiências, como cotas, isenção fiscal e aposentadoria, representando um avanço institucional.

O reconhecimento legal ajuda a romper o estigma que há anos desacredita a dor de quem vive com fibromialgia. Para muitos pacientes, é o primeiro gesto concreto de legitimação que recebem após uma longa trajetória de desconfiança e negligência”, afirma o Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião funcional e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Unicamp.

A nova lei, entretanto, não altera automaticamente as regras. Para que sejam reconhecidos como PCD e possam acessar direitos previdenciários e sociais, os pacientes precisam comprovar a condição clínica, apresentar laudo médico e se submeter a avaliação biopsicossocial – biológica, psicológica e social – realizada por equipe multiprofissional. Além disso, é necessário ter contribuído para a Previdência Social.

A lei estabelece que a fibromialgia deve interferir de forma significativa na realização de atividades cotidianas, como trabalho, locomoção ou autocuidado.  “O diagnóstico não pode ser confundido com incapacidade. Cabe a nós, médicos e profissionais de saúde, avaliar com responsabilidade cada caso e contribuir com informações técnicas claras”, esclarece o especialista no tratamento da dor.

Com a sanção, o Brasil se posiciona ao lado de países como o Reino Unido, que enquadra a síndrome como deficiência sob a Equality Act 2010 – Lei da Igualdade de 2010, do Reino Unido, protege contra discriminação, assédio e vitimização – desde que os sintomas causem impacto funcional por 12 meses ou mais, o que permite o acesso a benefícios como o PIP (Personal Independence Payment ou, em português, Pagamento de Independência Pessoal). Em Israel, o reconhecimento da síndrome como deficiência parcial já está em vigor, com subsídios proporcionais ao grau de limitação, mediante perícia médica.


O desafio de validar a dor

O reconhecimento da fibromialgia como deficiência lança luz sobre a necessidade de acolhimento diante de uma doença que provoca sofrimento e que pode ser subestimada.  O tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico formal de fibromialgia pode ser longo, o que retarda o início do tratamento e dificulta o acesso a estratégias de cuidado eficazes. “Há uma negligência estrutural com a dor. Na fibromialgia, o sistema nervoso amplifica estímulos, e a dor ganha uma proporção avassaladora”, explica o neurocirurgião.

Esse intervalo não só posterga o início do tratamento adequado, como também acentua o sofrimento emocional e pode levar ao afastamento das atividades profissionais e interferir na vida social. 

A fibromialgia é classificada como uma síndrome neurossensorial complexa, relacionada a um distúrbio no processamento da dor pelo sistema nervoso central. Seus sintomas incluem dor musculoesquelética difusa, fadiga crônica, sono não reparador, alterações cognitivas e sintomas neurovegetativos. 

“O tratamento da dor na fibromialgia não pode ser subestimado e deve ser conduzido por uma equipe multidisciplinar, sempre adaptado ao perfil clínico de cada paciente. É fundamental combinar conscientização e orientações sobre a doença, uso criterioso de medicamentos moduladores da dor, fisioterapia regular, atividade física de baixo impacto e suporte psicológico. Só assim é possível preservar ou recuperar a funcionalidade e a qualidade de vida, mesmo quando a dor persiste cronicamente”, ressalta o neurocirurgião.

Fonte https://diariopcd.com.br/neurocirurgiao-da-unicamp-defende-reconhecimento-de-pacientes-com-fibromialgia-como-pessoas-com-deficiencia/

Postado Pôr Antônio Brito 

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