Atleta, apresentador e solteiro!
Quando Fernando Fernandes foi hospitalizado após sofrer um acidente de carro em 2009, a primeira angústia que ele enfrentou foi saber se voltaria a andar. Ao descobrir que a lesão grave na coluna vertebral o deixaria paraplégico, o ex-BBB lidou com a dúvida de que seu desempenho sexual poderia ter sido prejudicado.
Em 2010, a psicóloga Ana Cláudia Bortolozzi Maia comprovou em um estudo que esta era uma preocupação recorrente entre pessoas com deficiência física. Ela notou que no caso dos homens, muitos comparavam suas performances de antes das restrições físicas com as atuais e temiam perder a ereção.
“Sem dúvida temi que isso pudesse acontecer. Acho que todo mundo que passa por uma situação como a minha teme. Todos os homens têm essa insegurança. Talvez da mesma forma que temos em relação a saber se vamos andar ou não. Esse foi um dos meus grandes medos. O primeiro foi o de saber se eu voltaria a andar ou não. O segundo, se eu teria ereção ou não”, relembrou ele em entrevista.
Fernandes ficou sem sequelas na ereção e 15 dias depois de ter sido levado para o hospital teve a sua primeira relação sexual após o acidente. “Foi no hospital ainda. Quinze dias depois da minha lesão. Uma ex-namorada que morava na Grécia estava aqui no Brasil e foi com ela. A única coisa que não foi legal foi a enfermeira entrar na hora (risos). De resto foi lindo. Cada caso é muito específico. Eu consegui me reencontrar e descobrir a minha funcionalidade.”
Ele, que se tornou um atleta de paracanoagem e apresentador, se apegou no esporte para recuperar a autoestima. Solteiro atualmente, Fernandes afirma que o assédio só aumentou após o acidente. “O assédio das mulheres está lindo, ótimo. A mulher tem aquele instinto de cuidar do outro. Então criou um canal de aproximação bem maior”, explica.
QUEM: O que mudou na sua vida sexual após o acidente?
FERNANDO FERNANDES: No começo lidei com muitas incertezas. Aquele medo do homem de como iria ser, de como minha autoestima iria ficar… Porque quando se pensa em vida sexual é inevitável não falar de autoestima. Tem que ter autoestima para chegar ao momento. O mais importante para mim até chegar nesta parte sexual era conquistar a autoestima. A partir do momento que comecei a me sentir capaz e a me sentir um homem inteiro, mesmo sem estar com a pernas funcionando, tive essa autoestima para ir atrás de um relacionamento e chegar ao ato sexual. A grande barreira é a falta de autoentendimento. Depois que você consegue ter esse autoentendimento e consegue ver a sua funcionalidade, você começa a se adaptar e criar a autoconfiança. A barreira maior nem está em falar, mas em idealizar. Muita gente perde essa autoconfiança e a habilidade de se relacionar quando perde alguma mobilidade ou nasce com ela. A partir do momento em que tive esse entendimento, percebi que a mudança seria apenas nas posições. Tive que me adaptar. De resto, é tudo igual.
QUEM: Você é um cara forte, bonito e sempre passou essa imagem de uma autoestima elevada e bem resolvida. Você também enfrentou momentos de baixa autoestima?
FF: Passei também, mas foi rápido. Uma questão de dez dias. O maior baque foi quando recebi a notícia de que meu processo de recuperação seria lento. Ninguém falou se eu ia andar ou não. Dez dias sem entendimento, sem saber como a minha vida ia ser dali para frente… Pensei: ‘Como vou recuperar a minha capacidade?’. O esporte apareceu como uma ferramenta. Sou apaixonado por esportes. Vi que seria uma grande ferramenta de força. Quando eu me dei conta disso, clareou todos os caminhos. Aquela frase ‘mente sã, corpo são’ foi totalmente o contrário para mim. Se o meu corpo estiver são a minha mente estará sã também. Depois de dez dias não olhava mais para trás em relação ao Fernando homem e ser humano.
QUEM: Muitas pessoas com deficiência física acabam não tendo a chance de ter uma vida sexual ativa. Às vezes, por preconceito ou até por uma certa superproteção de seus familiares. O que acha disso?
FF: Acho que a gente tem que lidar com essa ideia errônea de que a incapacidade está relacionada à deficiência física. Me incomodava muito com isso. Eu, como atleta, tenho a missão de quebrar paradigmas e ‘pré-conceitos’ da sociedade. Por isso que eu salto de paraquedas, salto de cachoeira, surfo uma onda gigante… Temos que trabalhar a capacidade da pessoa seja lá qual for ela. Na questão do sexo, se existe um problema com a ereção, tem que trabalhar o beijo e o toque. Ir descobrindo outras formas de se relacionar. Sexo não é só penetração. Sexo é toque, cheiro, olhar, respiração… Se fosse só penetração não ia ter casais formados por duas mulheres, por exemplo. Elas não dependem do pênis. É natural descobrir outros prazeres e outras formas de se relacionar. Apesar de eu ter a funcionalidade, descobri que o sexo é toque, cheiro, abraço e olhar. A gente tem que começar a abrir o modo de pensar. A lesão me trouxe outras formas de realizar o sexo. A idade e a maturidade também me mostraram isso.
QUEM: Sua libido mudou?
FF: Não tem desculpas. Se tiver vontade vai ser onde tiver que ser e da forma que tiver que ser. Se estiver na praia a gente dá um jeito de fazer, se tiver que ser na cama, vai ser assim. Quando duas pessoas querem elas vão fazer de qualquer forma. Depende muito da minha cabeça. Se eu me aceito, não fico preocupado se a pessoa vai me aceitar ou não. Eu vou usar o que eu tenho de mais prazeroso. Na hora da troca vai ter essa troca.
QUEM: Comparando com o seu passado, como ficou a paquera após o acidente? A abordagem mudou?
FF: Ficou bem melhor! A mulher tem aquele instinto de cuidar do outro, o instinto maternal. Então criou um canal de aproximação bem maior. O assédio das mulheres está lindo, ótimo.
QUEM: Então na paquera você não passou por aquele momento de insegurança?
FF: Nunca foi um problema isso. Nem pensei! Se eu estou paquerando, fixo o meu olhar em alguém da mesma forma que fixava antes.
QUEM: Que atitude uma mulher não deve ter no sexo com uma pessoa com deficiência física?
FF: Não pode ser fresca e tem que estar ali por inteira. Quando estou ali, não penso absolutamente em nada em relação à minha forma ou mobilidade. Apenas realizo, falo. Não tenho o sentimento de incompetência ou constrangimento. A mesma capacidade que tenho para o esporte, direciono ao ato sexual e aos relacionamentos. Não tenho dúvidas. Isso gera confiança para a pessoa que está comigo também.
QUEM: Como outras pessoas com deficiência física com dificuldade em se relacionar amorosamente e sexualmente podem recuperar a autoconfiança? Acredita que o esporte seja o caminho?
FF: Não. O caminho do esporte é o meu caminho. O caminho que eu indico para a sociedade é o da oportunidade. Se ele tiver oportunidade, ele vai se encontrar na sociedade. Oportunidade de estudar, de se locomover livremente pelas ruas, de trabalhar na área dele… Isso vai trazer a autoconfiança e melhorar a autoestima. É estar integrado na sociedade.
Fonte: Revista Quem
http://www.raridade.blog.br/fernando-fernandes-relembra-redescoberta-do-sexo-apos-acidente-que-o-deixou-paraplegico/
Postado por Antônio Brito
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