01/10/2020

Dia Mundial da Retina: deficiências visuais poderiam ser evitadas pela metade

Há 22 anos é comemorado o Dia Mundial da Retina, em 29 de setembro, data criada para aumentar a conscientização sobre a saúde dos olhos e alerta para os cuidados em torno desse órgão tão complexo. O primeiro relatório global sobre visão da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que 2,2 bilhões de pessoas vivem com deficiência visual ou falta de visão e, ainda, mais de 1 bilhão de casos poderiam ter sido evitados ou tratados.

Os problemas de visão não são exclusividade de uma determinada faixa etária, mas, segundo a OMS, 80% das 45 milhões de pessoas cegas no mundo têm idade superior a 50 anos. “Há uma conformidade por parte dessa população em aceitar algumas das condições que os acometem, como quando começam a ter dificuldade para enxergar, por exemplo. Esse conformismo tem diminuído com a progressão da expectativa de vida, ao mesmo tempo em que a perda de visão causada por doenças crônicas tem aumentado”, completa Maurício Maia, Presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (BRAVS), e Professor Adjunto, Livre-Docente em Oftalmologia do Setor de Cirurgia de Retina e Vítreo da Universidade Federal de São Paulo.

Doenças crônicas comuns

A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) está entre as doenças crônicas mais comuns que podem causar perda de visão ou cegueira, ocorre em uma parte da retina chamada mácula e leva a perda progressiva da visão central. É, depois do glaucoma, a principal causa de perda de visão irreversível na população idosa e estima-se que afete 196 milhões de pessoas em todo o mundo, um número que deve aumentar para 288 milhões em 2040.

A DMRI é uma doença que pode ser confundida com diversas outras. Por isso, é importante sempre conversar com um oftalmologista. O diagnóstico da DMRI é, muitas vezes, feito através do Exame Oftalmológico. Devido à idade dos pacientes, os sintomas da DMRI podem ser mascarados, dificultando o diagnóstico. A doença é descoberta através da realização do exame de fundo de olho a partir da suspeita clínica por parte do médico. Ele então pode realizar um exame clínico e avaliação de acuidade visual e uma Tomografia de Coerência Óptica. Nesse exame o paciente coloca o rosto apoiado no tomógrafo da retina, olha para frente, para uma cruz que aparece na tela do aparelho. O médico oftalmologista, de preferência que tenha especialização em doenças da retina e vítreo (chamado de retinólogo), consegue fazer o exame e ver as diversas camadas da retina, bem como fazer o diagnóstico.

Existem dois tipos da doença: a DMRI úmida (ou neovascular), menos comum com cerca de 10 a 20% dos casos, com uma evolução rápida e severa com maiores chances de perder a visão; ou DMRI seca, que é responsável por 90% dos casos e apresenta uma evolução mais lenta com menos chances de perda de visão.

“A DMRI úmida ocorre quando há crescimento de vasos sanguíneos imaturos na camada coróide, abaixo da retina, e acabam por estourar, danificando a mácula. A seca, acontece pela perda progressiva de células que tem a função de nutrir essa camada (abaixo da retina). O acúmulo de depósitos de gordura, chamados drusas, que aparecem nos exames como pequenos pontos amarelos, entre a camada de células do epitélio pigmentado da retina (EPR) e a membrana de Bruch afeta a capacidade da célula do EPR de nutrir e manter as células fotorreceptoras de cone (responsáveis por reconhecer as cores), causando um declínio na visão”, explica o Dr. Marcelo.

Até o momento, não existem terapias disponíveis para a DMRI seca, porém é possível prevenir com a mudança de alguns hábitos de vida. A adoção de um estilo de vida mais saudável pode reduzir o risco de DMRI e retardar a progressão da doença. Já foi demonstrado que parar de fumar, manter uma dieta equilibrada e controlar o peso, podem ser medidas benéficas.

No caso da DMRI úmida (neovascular), a intervenção cirúrgica foi a principal estratégia de tratamento no passado, mas atualmente a terapia anti-VEGF – que bloqueia o Fator de Crescimento Endotelial Vascular (VEGF) – tornou-se a opção de terapia mais comum e eficaz.

No Brasil, apenas os medicamentos anti-VEGF que integram o rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e apresentam indicações específicas para o tratamento da DMRI em sua bula, estão disponíveis gratuitamente pelos governos de alguns estados.

Impacto do diabetes na visão

Só no Brasil são 16 milhões de pessoas com a doença, que é crônica. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), após 20 anos convivendo com a doença, 90% dos pacientes com tipo I e 60% com o tipo II desenvolvem Retinopatia Diabética (RD) e a principal causa do declínio visual é o edema macular (EMD). O Prof. Mauricio Maia, chama a atenção para o fato de que quase metade dos pacientes não sabem que são diabéticos. “Além do desconhecimento sobre a doença, as pessoas também não sabem como o diabetes afeta a retina, causando a retinopatia diabética em cerca de 30-40% de todos os pacientes que convivem com a doença. E o mais agravante é que, em 8% dos casos, ela resulta em cegueira legal em pessoas em idade produtiva no Brasil. O que torna esse cenário um importante problema de saúde pública com enormes impactos nas economias dos países, em especial, os em desenvolvimento, como o Brasil”, afirma.

A terapia com anti-VEGF impede a atividade desta proteína e retarda o progresso do edema macular. “O ideal é que o paciente acompanhe de perto seu diabetes, procure manter níveis controlados e trate os danos da visão assim que começar a nota que há algo de errado”, alerta o médico.

“Além de todas essas questões, apesar dos esforços governamentais, o acesso dos pacientes de degeneração macular relacionada à idade e retinopatia diabética ao tratamento com anti-angiogênicos, ainda é um problema de enorme importância no Brasil, devido às dimensões continentais e peculiaridades do nosso país”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo.

Cuide da saúde dos seus olhos

“As pessoas que têm o hábito de realizarem consultas de rotina todos os anos, dificilmente incluem uma visita ao oftalmologista se não for necessário ou apresentarem um sinal visível. No entanto, uma irritação, coceira ou até mesmo vista embaçada, que pode durar segundos, são sinais de que a ida ao consultório é necessária. Cuidar da visão, mesmo que não faça parte de algum grupo de risco, é extremamente importante para evitar problemas graves e irreversíveis no futuro”, recomenda o retinólogo.

A Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo, apoiada pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia e empresas privadas, criou a ONG PRO.VER, que tem como objetivo incluir os pacientes portadores de retinopatia diabética e degeneração macular relacionada à idade no tratamento com anti-angiogênicos, e minimizar, portanto, os casos de cegueira por essas doenças no Brasil.  

Fonte: https://revistareacao.com.br/dia-mundial-da-retina-deficiencias-visuais-poderiam-ser-evitadas-pela-metade/

POSTADO POR ANTÔNIO BRITO 

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