17/07/2020

Vittinho do SUS: jovem que viralizou na web conta sobre diagnóstico tardio de autismo

“Foi um momento de revelação pra mim. Não foi algo ruim, e sim ótimo, porque pude aprender ainda mais com minhas dificuldades e melhorar elas de forma direcionada e objetiva”. É assim que o estudante de medicina Vittor Guidoni – conhecido na internet como Vittinho do SUS – define a sensação de receber um diagnóstico de autismo aos 18 anos.

Sensação na internet ao virar meme após um post no Twitter, o jovem conta ao Olhares do Autismo que sempre se sentiu diferente das outras pessoas, e chegou a pesquisar diversas vezes sobre outras condições e transtornos. Interessado em saúde mental e curioso em entender como poderia interagir melhor socialmente, ele lia bastante a respeito do tema.

“Não aprendi a ser um psicanalista depois de ler os livros e ver tutoriais e vídeos que vi. Porém, aprendi muito em questões sociais, como conversar, como me comportar, etc. E quando trouxe isso para a psicóloga, ela ficou até surpresa que eu tinha feito toda essa ‘autoterapia’ ao longo dos anos”, lembra.

Diagnóstico

Foi a psicóloga quem levantou as primeiras suspeitas de que Vittor podia estar no espectro do autismo. Ao longo de sete meses, o estudante fez terapia com o objetivo de tratar questões de ansiedade e falta de foco.

“Conversávamos mais sobre prováveis motivos pelas minhas diferenças do ser humano ‘normal’, por assim dizer, e tentávamos achar algo que encaixasse”, conta.

Durante uma consulta, ela pediu que o estudante procurasse informações sobre o TEA e analisasse se encontrava semelhanças nas características apresentadas. “Me encaixei em tudo. Dos stims aos hiperfocos, às dificuldades. Tudo. Daí ela me encaminhou para um psiquiatra e lá tive o diagnóstico”.

Ainda assim, ele diz que demorou um tempo até contar para os amigos. “Medo de me tratarem diferente, sabe?”. Mas fez o post em uma rede social.

“Vittinho do SUS”

Em julho de 2019, Vittor fez um post que viralizou em todas as redes sociais e o deixou conhecido. No tweet, ele colocou uma selfie na qual aparece com uma camiseta com os dizeres: “Sim, eu faço Medicina, mas por favor não me chame de doutor. Me chame de Vittinho do SUS”.

Rapidamente, o post se espalhou pelo Twitter e em outras redes sociais. Foram mais de 211 mil curtidas e 34 mil compartilhamentos só no perfil oficial do jovem. Desde então, ele conseguiu novos seguidores na rede social.

Post de Vittor viralizou no Twitter (foto: arquivo pessoal/ Vittor Guidoni)

Vittor conta que teve a ideia ao ver uma camiseta parecida, de um estudante de Direito. “Um dia, quando estava indo para o terceiro período de Medicina, acho, bolei a ideia: “E se eu mudasse de Direito para Medicina”. Aí escolhi ‘Vittinho do SUS’. Postei, e deu no que deu”, diverte-se.

Repercussão

O jovem lembra que não esperava tanta repercussão na foto, e que ficou surpreso. Na época, ele tinha apenas 100 seguidores. “Postei como piada, para os poucos que me seguiam. Postei mais ‘para mim’, sabe? ,Achei engraçado só. Fiquei em choque [risos]. Eu nem tinha visibilidade. Aí, do nada, foi para 200. Depois para 500. Quando eu vi, à noite, já estava em 7 mil seguidores e subindo. E continuou subindo até dar pouco mais de um mês”.

Hoje, o estudante tem mais de 234 mil seguidores no perfil do Twitter. Apesar dos fãs, ele conta que ter esta visibilidade também tem um lado ruim, e que recebe muitos hates [comentários maldosos] em alguns momentos.

“É apenas normal, né. Em situações assim que você recebe muito olhar, de muita gente, também tem muita gente que vai falar mal. Alguns com motivo, a maioria nem tanto”, comenta.

Visibilidade para o autismo

Vittor também aproveita um pouco do espaço que tem ganhado nas redes sociais para dar mais visibilidade ao autismo. No próprio Twitter, chegou a fazer alguns posts sobre o tema.

Apesar de ainda não ter se dedicado muito ao assunto, devido ao isolamento social provocado pelo novo coronavírus, o jovem conta que planeja estudar novas formas de produzir conteúdo voltado para o tema. “Quero fazer as coisas direito”, afirma.

Enquanto isso não é possível, ‘Vittinho do SUS’ diz que recebe mensalmente algumas dúvidas de pessoas que querem saber mais sobre o tema porque estão no espectro ou conhecem alguém com o diagnóstico.

“Algumas trazem perguntas que eu não consigo/sei responder. Nesses casos, sugiro que pergunte a um profissional. Para todas, né, sempre sugiro isso. Um profissional no assunto é muito melhor que eu, mas qualquer dúvida menor, eu tento ajudar com o que posso”, reforça.

Contribuindo para a causa

O jovem também tem contribuído em algumas iniciativas na causa do autismo. Em fevereiro deste ano, ele participou de um episódio do podcast ‘Introvertendo’, sobre autistas na Medicina. Entre outros assuntos, comentou sobre a escolha da profissão.

“Eu acho que, para mim, minha motivação nunca foi realmente fazer medicina. A minha motivação, como eu sempre digo por mais clichê e bobinho que seja, foi salvar o mundo. Só que, claro, isso é um desejo de criança, um sonho completamente ingênuo e utópico”, disse sobre a escolha do curso de formação.

“Defensor do SUS”

Na oportunidade, ele ainda reforçou a importância da saúde pública no Brasil.

“Eu acho que a saúde pública no Brasil tem uma importância ridícula, num sentido bom da palavra. No sentido que é tão grande que você não consegue expressar com adjetivos comuns”.

“A gente tem uma população imensa e ela é mal distribuída. […] Você tem que pensar que, a gente vivendo no Sul, no Centro-Oeste, a gente vê a saúde pública como algo muito mundano, como algo que pessoas pobres vão usar, como algo que pessoas que não têm capacidade de pagar um plano de saúde vão usar. Poxa, eu tenho um plano de saúde, mas mesmo assim eu vou até o SUS fazer coisas diárias. Não vou gastar R$ 200 de uma consulta ridícula que eu posso fazer em um postinho de graça. Muita gente reclama de fila e sim, fila é um problema, só que a qualidade do atendimento não se resume ao tempo que você espera. E eu digo com certeza que a maioria dos médicos que atendem pelo SUS fazem o mesmo atendimento do serviço particular à noite ou de manhã”, pontuou.

Prestes a completar um ano do post viral, Vittor enxerga a visibilidade que ganhou por meio do meme como algo útil para transmitir mensagens e conscientizar as pessoas.

“É bom saber que um post falando sobre saúde publica e/ou causas sociais pode atingir milhares de pessoas pelo país, e que elas vão sempre sair carregando um pouco mais de conhecimento. Estar nessa posição de poder ensinar alguém sobre alguma coisa dessa importância é um privilégio. Tento fazer o possível pra não deixar essa oportunidade passar. O foco é ensinar e agregar na vida das outras pessoas o máximo possível”, conclui.

Fonte  https://olharesdoautismo.com.br/2020/07/17/vittinho-do-sus-autismo/

Postado por Antônio Brito 

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