19/07/2020

O que é interseccionalidade e por que devemos falar sobre ela?

Conversamos com Carla Akotirene, mestra e doutoranda em Estudos Feministas e autora do livro “Interseccionalidade”, para entender sobre o tema.

feminismo está cada vez mais presente nos debates de uma sociedade como um todo, mas a interseccionalidade dentro dele tem ganhado mais espaço, com por exemplo o feminismo negro. Em 1989, Kimberlé Crenshaw, advogada e acadêmica especialista em questões de gênero afro-estadunidense, criou o termo a qual refere-se como ferramenta que nos permite enxergar a colisão das estruturas. Conversamos com Carla Akotirene, Mestra e Doutoranda em Estudos Feministas, que nos explicou tudo sobre interseccionalidade e a sua importância no âmbito das políticas públicas.
International Womens Day. Vector seamless pattern with with women different nationalities and cultures. Struggle for freedom, independence, equality. (Foto: Getty Images/iStockphoto)

O que é interseccionalidade?

A interseccionalidade é um conceito indispensável no campo das ciências sociais. É ela que leva em conta a inseparabilidade estrututural do racismo, capitalismo e cis-heteropatriarcado, por exemplo. “Kimberlé Crenshaw sistematizou todas essas experiências para mostrar para o estado democratico que deveria existir um instrumento normativo capaz de dar conta das reivindicações das mulheres negras - porque elas não são brancas (experiência de raça) e elas também não são homens (experiência de genêro)”, explica Carla Akotirene.

A interseccionalidade é, portanto, esse lugar de identidade que está interceptado por mais de um marcador social. “Se a gente vem com ferramentas metodológicas, teóricas e práticas que só abriguem uma categoria como, por exemplo, dentro da luta feminista a categoria apenas de gênero, a gente cai no lugar da mulher branca universal”.

“Então, a interseccionalidade é esse instrumento normativo para que as mulheres negras possam ser vistas e faladas a partir do seu próprio lugar de experiência pós-colonial.” Carla afirma que, apesar dela ter sido sistematizada por Kimberlé, ela também está presente nos escritos de Lélia Gonzalez, Maria Beatriz Nascimento e Carolina Maria de Jesus. “Essa síndrome de vira-lata que temos faz com que a gente não perceba que também temos contribuições muito relevantes de intelectuais na América do Sul”, diz.

Carla Akotirene (Foto: Divulgação)

Carla Akotirene (Foto: Divulgação)

A interseccionalidade e políticas públicas

"Sem a interseccionalidade nenhuma política pública funciona”, afirma Carla, que também é a autora do livro Interseccionalidade (Pólen, R$ 24,90), o quinto da coleção Feminismos Plurais, coordenada por Djamila Ribeiro. “A política para mulheres sem a interseccionalidade contribuí para que apenas os feminicidios de mulheres brancas, usando a categoria genêro, seja diminuído”.

A sociedade é um grupo multifacetado com diferentes classes, genêros, raças, territórios e idades. A interseccionalidade é essa sensibilidade analítica de considerer experiências individuais. Akotirene dá um exemplo prático para entendermos melhor situações em que a interseccionalidade é extremamente relevante: “Uma mulher negra que mora em um território considerado criminalizado pelo tráfico das drogas quando faz um chamado policial não terá a mesma repercussão e assistência de um chamado feito por uma mulher branca moradora de um bairro nobre. Isso porque já existe um discurso oficial do estado de guerra contra as drogas, então acredita-se que antes de serem mulheres vítimas de violência, elas são companheirias de traficantes”.

No segmento criança-adolescente, Akotirene dá como exemplo o caso Miguel: “Por que Miguel foi deixado no elevador pela patroa? Porque antes dele ser visto como criança, que merece a proteção que está descrita no Estatuto da Criança e do Adolescente, ele é visto como negro. Há essa intersecção de raça estruturando a identidade”.

A interseccionalidade é importante para perceber que muitos fatores atravessam as experiências - sejam elas de raça, de geração, de território ou de classe. "Se a gente não conseguir dinamizar esses cruzamentos na identidade de alguém, a gente não vai conseguir dar cobertura em políticas públicas que combatam o racismo institucional, o sexismo institucional e a lgbtfobia institucional, que são todas estruturas que existem simultaneamente."

Fonte  https://revistaglamour.globo.com/Lifestyle/noticia/2020/07/o-que-e-interseccionalidade-e-por-que-devemos-falar-sobre-ela.html?fbclid=IwAR0aSBjE8eegn7mI3RIaCp0otXyhvmXSHv66g-dYwEQlZOd1ugTgdmoW9sA

Postado por Antônio Brito 

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