03/02/2020

Cada cérebro, uma aprendizagem: A inclusão escolar como direito e não um favor

criancaespecial.com.br
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Por Raquel Del Monde

Acho importante contar como vim parar aqui. Porque considero legítimo o questionamento de educadores em relação a falas de pessoas que nunca estiveram à frente de uma sala de aula, então penso que me apresentar é um ato de respeito.

Entrei na área da educação desarmada. Era uma mãe buscando respostas para um filho que não aprendia e que ouviu de uma professora do início do Fundamental I – que tinha mestrado em Educação Especial – que ela rasgaria seu diploma se ele fosse capaz de acompanhar uma escola regular. Ela estava tão perdida quanto eu. Porém aquela era uma resposta que eu não podia aceitar.

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Decidi que precisava saber algumas coisas por mim mesma. Além de mãe, era também uma pediatra apaixonada por desenvolvimento infantil e uma pessoa que acreditava na educação. Aí começou minha jornada na neurociência e no mundo da aprendizagem. Tive a sorte de ter ao meu lado uma equipe pedagógica que encarou o desafio comigo e que aceitou implementar as estratégias que ajudassem meu filho a aprender. Foi a mesma equipe que anos depois comemorou com a gente quando ele foi aprovado na USP duas vezes na mesma semana (pelo ENEM e pela Fuvest) para o curso que escolheu.

Mas não estou aqui para contar história de superação. Cada caso é um caso. Ver com meus próprios olhos a importância de se compreender diferentes estilos de aprendizagem foi só o ponto de partida. Precisava saber o que acontecia com as crianças com as mais diversas dificuldades e como poderíamos ajudá-las. Estudei muito, frequentei ambulatórios de transtornos de aprendizagem, fiz especialização em psiquiatria infantil e passei a trabalhar com crianças neurodiversas. Me envolvi de verdade com o processo de inclusão escolar delas e conheci de perto as barreiras que enfrentavam. Foi ficando cada vez mais claro para mim a necessidade de revermos alguns dos dogmas do nosso sistema educacional. Nossas crianças pagam um preço alto demais pelo engessamento e mecanização do ensino.

Hoje vejo que a neurologia tem muito a contribuir com os professores: afinal, eles estão lidando diretamente com o cérebro humano e suas infinitas possibilidades. Por isso a palavra inclusão ainda provoca arrepios por aí. Como é possível ensinar crianças tão diferentes numa mesma sala de aula? Bom, a verdade é que quando implementamos estratégias que favorecem crianças com determinadas dificuldades, TODOS os alunos são beneficiados. No dia em que conseguirmos desconstruir conceitos ultrapassados de práticas em sala de aula e entender a função dos suportes pedagógicos, deixaremos até de chamar a isso de inclusão.

Raquel Guimarães Del Monde – Médica pela USP Ribeirão Preto. Fez residência em Pediatria pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM – Unicamp). Especialista em Pediatria pela Associação Médica Brasileira e Sociedade Brasileira de Pediatria. Especialista em Psiquiatria da Infância e Adolescência (FCM – Unicamp). É Diretora do Núcleo Conexão, grupo multidisciplinar de avaliação e intervenção em transtornos de aprendizagem, desenvolvimento e autismo. Autora do livro “Na dose certa – o que mais o pediatra tem a dizer”.

Fontehttps://www.coreduc.org/

Postado por Antônio Brito 

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