O Diário PcD teve acesso a Nota Pública divulgada pela ANAPcD sobre o quadro “Pequenos Gênios”, exibido no programa Domingão do Huck, da TV Globo
Inteligência não se mede por cronômetro: por uma infância diversa e respeitada na televisão brasileira
O quadro “Pequenos Gênios”, exibido no Domingão com Huck, da TV
Globo, apresenta crianças com habilidades cognitivas específicas — como
soletrar palavras sem vogais ou realizar cálculos mentais com rapidez — e
as exibe como expoentes da genialidade.
De acordo com a ANAPcD – Associação Nacional de Apoio às Pessoas com Deficiência “nenhuma criança com deficiência foi incluída até o momento. A ideia de inteligência promovida é estreita e descontextualizada: rapidez verbal, acerto técnico e memória imediata. O formato é competitivo, televisivo e com viés meritocrático, em que quem performa melhor, ‘vence’. Esse modelo ignora a diversidade de desenvolvimento cognitivo, desvaloriza outras formas legítimas de inteligência e pode causar sofrimento emocional em milhares de crianças e famílias neurodivergentes, ao reforçar a noção de que valor está atrelado à performance”.
Acompanhe a Nota Pública emitida pela ANAPcD:
Inteligência não se mede por cronômetro: por uma infância diversa e respeitada na televisão brasileira
A
ANAPCD vem a público expressar sua preocupação com os efeitos
simbólicos e educativos do quadro “Pequenos Gênios”, exibido no programa
Domingão com Huck, da TV Globo. Apesar de reconhecer o esforço e o
brilho das crianças participantes, é preciso dizer com clareza: há um
silêncio gritante quando nenhum rosto com deficiência aparece entre os
“gênios”.
O talento humano não é uniforme, e muito menos
mensurável por rapidez na fala ou domínio ortográfico em ambientes
altamente estimulados. Existe inteligência na sensibilidade, no esforço
contínuo, na superação cotidiana das barreiras impostas — não pelo
corpo, mas por uma sociedade que ainda insiste em aplaudir apenas o que
impressiona.
Toda criança tem o direito de ser reconhecida por
suas potencialidades singulares. E toda programação televisiva,
especialmente em concessão pública, tem a obrigação constitucional de
respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família (art. 221).
Não é aceitável que se construa uma ideia de genialidade baseada apenas
em performance cognitiva acelerada, desconsiderando a pluralidade das
mentes humanas.
A Lei Brasileira de Inclusão reforça que pessoas
com deficiência são sujeitos de direitos em igualdade de oportunidades
(art. 4º). Isso vale na escola, na rua e também na televisão. A ausência
de representatividade é uma forma de exclusão simbólica — e ela fere,
silencia e apaga talentos que não se adaptam ao molde estreito da
velocidade e da exatidão.
Além disso, é dever do Estado, da
sociedade e da família assegurar à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito à dignidade, ao respeito e à convivência
inclusiva (art. 227 da Constituição; art. 3º do Estatuto da Criança e do
Adolescente).
A ANAPCD, por meio de sua Presidência, propõe à TV Globo:
– Que amplie a abordagem do quadro para reconhecer diferentes formas de inteligência;
– Que inclua crianças com deficiência entre os participantes, respeitando a acessibilidade atitudinal e comunicacional;
–
Que estabeleça diálogo com entidades da sociedade civil para a
construção de uma narrativa mais plural e comprometida com a inclusão.
O
que se exibe como espetáculo aos domingos tem reflexos reais na
autoestima de milhões de crianças invisibilizadas. E nós, enquanto
sociedade, temos a escolha: aplaudir a exclusão travestida de mérito ou
promover a justiça travestida de sensibilidade.
Porque inteligência não é só quem acerta. É também quem resiste, quem sente e quem insiste em existir.
Fonte https://diariopcd.com.br/anapcd-divulga-nota-publica-sobre-quadro-pequenos-genios-apresentado-em-emissora-de-tv/
Postado Pôr Antônio Brito
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