Recordista de bilheteria na França, onde foi assistido por mais de 19 milhões de espectadores quando lançado, “Intocáveis” (2011) , de Eric Toledano e Olivier Nakache, provou ser possível falar de personagens estigmatizados com leveza, humor e respeito que merecem. O sucesso internacional do longa, sobre a relação entre um tetraplégico rico e um enfermeiro de métodos pouco convencionais, chegou a inspirar remakes nos Estados Unidos e na Argentina, além de adaptações para o teatro. A dupla de cineastas franceses volta a testar as sensibilidades do mundo a temas polêmicos com “Mais que especiais” , comédia dramática sobre dois educadores que trabalham com jovens autistas.
Protagonizado por Vincent Cassel e Reda Kateb, a produção foi uma das principais atrações do Festival Varilux .
O filme conseguiu arrastar mais de dois milhões de espectadores em sua estreia na França, “Mais que especiais” tem jogado luz sobre os problemas associados à população com essa condição, ajudando a minimizar os preconceitos que dificultam ainda mais sua integração social.
“O sucesso do filme deu visibilidade ao tema do autismo na França, em particular às iniciativas e organizações que lidam com crianças e adolescentes com esse tipo de distúrbio. Chegamos a projetá-lo na Assembleia Nacional (o parlamento francês), e fazer uma sessão para a Presidência da República, a pedido do presidente Emmanuel Macron e da primeira-dama Brigitte. Estamos orgulhosos porque, depois disso, criou-se aqui na França um fundo específico de apoio ao autista. ” informa Nakache, um dos diretores do filme.
Assim como “Intocáveis”, “Mais que especiais” é inspirado em pessoas e organizações reais. Vinte anos atrás, Nakache e Toledano conheceram a obra de Stéphane Benhamou, criador do Le Silence des Justes, e Daoud Tautou, fundador do Les Relais Île-de France, duas instituições voltadas à reintegração de crianças e adolescentes autistas. Os educadores geralmente acolhem pessoas de casos mais agudos do transtorno, rejeitados por outras instituições que preconizavam o confinamento e o controle rígido dos pacientes. Em 2005, o cotidiano das duas associações inspirou um documentário dirigido pela dupla para o Canal+. Levaria mais de uma década para que voltassem ao tema, dessa vez sob o ponto de vista da ficção.
“A ideia demorou a amadurecer em nossas cabeças. Tínhamos a obrigação de respeitar a realidade, e por isso fizemos um esforço de imersão total, que nos tomou muito tempo” explica Nakache, coautor, com Toledano, de sucessos como “Samba” (2014) e “Assim é a vida” (2017).
O elenco de “Mais que especiais” combina atores, cuidadores profissionais e pessoas com autismo, como Benjamin Lesieur, que interpreta Joseph, um dos primeiros casos de sucesso do trabalho de socialização mostrados no longa.
“Foi um set bem particular. Não dava para chegar com a equipe e sair filmando, tivemos que ganhar a confiança dos educadores e dos jovens autistas que trabalhariam conosco. Os técnicos e atores profissionais passaram por um processo de imersão um ano antes das filmagens, frequentando as associações, para que todos se conhecessem e criassem uma relação de confiança com os não atores” lembra Nakache.
O filme contrapõe os métodos tradicionais de acolhimento da pessoa com autismo do governo, marcado por rígidos protocolos que não preveem acompanhamento mais próximo e individualizado, ao tratamento alternativo desenvolvido pela Le Silence des Justes e a Les Relais Île-de France.
Fonte: https://revistareacao.com.br/mais-que-especiais-comedia-dramatica-sobre-dois-educadores-que-trabalham-com-jovens-autistas/
Postado por Antônio Brito
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