A solução da Hand Talk, de Recife, incluída em 2014, traduz o texto para a Língua Brasileira de Sinais com o Hugo, que faz a interpretação em Libras. Para usar, acione o botão azul à esquerda.
E a tecnologia da Audima, do Rio de Janeiro, incorporada em 2018, transfere o conteúdo escrito para áudio, transforma texto em som. Para ouvir, use o player no alto da página.
Essas duas empresas liberaram seus recursos sem custos para dezenas de portais e páginas de notícias, ampliando o acesso às informações sobre o coronavírus e a pandemia da covid-19.
Comento a importância dessa atitude para o universo da pessoa com deficiência em artigo publicado nesta semana no site da Social IN, que replico aqui.
Imprensa forte, livre e acessível
Jornalistas de todo o mundo estão na linha de frente do público exposto ao coronavírus. Não haveria qualidade, profundidade e abrangência na cobertura diária da pandemia da covid-19 sem o trabalho nas ruas, nos hospitais e nas estruturas do poder público. É impossível fazer isso somente à distância, sem conhecer as pessoas de perto, sem acompanhar presencialmente as histórias.
As medidas de proteção foram colocadas em prática, com distanciamento e isolamento social dos profissionais que integram o grupo de risco, esvaziamento das redações para impedir a proliferação do vírus, uso dos equipamentos essenciais, principalmente a máscara, rigor na higiene, especialmente das mãos, e atualização dessas providências conforme os trabalhadores da saúde indicam o caminho a seguir.
Neste momento, quem precisa liderar essa luta é a ciência. E a imprensa tem de caminhar junto com os fatos, fortalecer as orientações à população.
Aqui no Brasil, ainda precisamos lidar com governantes oportunistas, violentos, que agridem e ameaçam constantemente jornalistas e órgãos de imprensa, tentam coagir repórteres e editores, gritam “cala a boca” quando são questionados, que atuam para construir uma mensagem fascista e mentirosa de que estão com o povo.
A pandemia reforçou a importância da imprensa livre e do amplo acesso ao conteúdo publicado em jornais, revistas, portais na internet, emissoras de rádio e televisão, está deixando claro a diferença entre quem tem compromisso com a informação e quem está nessa apenas para construir a própria imagem e, talvez, fazer uns ‘merchants’.
Estratégias para atrair e manter esse público estão em discussão, espaços abertos e sem cobrança surgiram por todos os lados, o significado do conhecimento ficou ainda mais nítido. Os grandes veículos perceberam a necessidade de ampliar o acesso às notícias, abriram (um pouco) seus portões e relaxaram as regras de leitura.
Devemos abraçar essa oportunidade, consumir as informações com atenção e critério. Melhor está para quem pode ler, ouvir e ver tudo isso sem maiores dificuldades, sem a necessidade dos recursos de acessibilidade. Porque, mais uma vez, os grandes veículos de imprensa decidiram não contemplar as pessoas com deficiência nesse pacote de ‘bondades’.
Uma visita rápida aos principais portais de notícias mostra que não há ferramentas para garantir acesso a cegos, surdos, gente com mobilidade restrita, a população com deficiência intelectual, até mesmo aos idosos que não são íntimos das modernidades.
Há um argumento comum nessas empresas de que a implementação da acessibilidade é cara e trabalhosa, mas isso não procede. O movimento Web Para Todos já explicou muitas vezes de que maneira esse investimento é fundamental. Sendo assim, não faz somente quem não quer fazer.
Pela situação grave e estressante que a pandemia nos impõe, nos aspectos da saúde, da economia e das políticas sociais, muitas empresas especializadas em acessibilidade digital se colocaram à disposição e ofereceram seus recursos gratuitamente. Alguns veículos aceitaram imediatamente a boa iniciativa, outros consideraram desnecessário.
Entre tantas possibilidades, duas startups que trabalham com inteligência artificial se destacaram: a Audima, do Rio de Janeiro, com sua ferramenta que transfere para áudio o texto publicado, e a Hand Talk, de Recife, especialista em recursos para pessoas com deficiência auditiva e língua de sinais, que tem uma solução para tradução automática do texto para Libras.
Na programação do telejornalismo, é raro haver interpretação em Libras, audiodescrição e legendas em tempo real (closed caption). Atualmente, a emissora que mais investe nessa estrutura é a TV Cultura.
E, com a obrigação do uso de máscara nas ruas, os repórteres de TV aparecem no vídeo com parte do rosto coberto, impedindo que o público surdo, já esquecido, consiga sequer fazer a leitura labial e acompanhar o que é apresentado.
Imprensa forte e livre é fundamental, mas somente com acesso total e inclusão real existe, de fato, uma democracia.
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