O ano de 2020 tirou das organizações sociais algo que é tão fundamental para o trabalho delas: o contato. E, ao mesmo tempo, trouxe ainda mais famílias precisando de apoio. Foram meses de contrastes que aparecem nos números. Em abril e maio deste ano, mais de R$ 6 bilhões foram doados a ONGs brasileiras, de acordo com a ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos).
Mas, ao longo dos meses, as arrecadações começaram a cair. Em junho e julho, por exemplo, as doações tiveram uma baixa de 90% em relação à média dos dois meses anteriores. Nesse cenário desafiador, as campanhas precisaram se multiplicar para não deixar as famílias atendidas pelas ONGs desassistidas.
Com a pandemia da Covid-19, o home office foi uma solução encontrada para incentivar o isolamento social. Mas, além dos profissionais de saúde, outras funções exigem a presença física e foi assim com diversos profissionais da Liga Solidária, organização social sem fins lucrativos que atende a pessoas em situação de alta vulnerabilidade na capital paulista. Desde março, colaboradores da Liga vêm atuando em funções diversas, desde a distribuição de cestas básicas – inclusive na semana do Natal – até visitas a idosos.
Para Gilberto Camilo da Silva, gerente executivo de Longevidade da Liga Solidária, com a propagação da Covid-19 no Estado de São Paulo, a instituição se reorganizou para mudar a cultura de atendimento no período de isolamento social.
O maior desafio foi romper com uma de nossas maiores premissa que se refere à socialização. Diante do novo cenário, tomamos algumas medidas para proteger nossos idosos e colaboradores. Alteramos a rotina de atendimentos e atividades presenciais, por domiciliares e virtuais, garantindo dessa forma o contato dos Idosos com o programa, visando manter o vínculo afetivo com eles e garantindo sua autonomia”, explica Gilberto.
Foram criados novos protocolos técnicos de atendimentos e cuidados necessários com o uso de EPIS específicas para diminuir o risco de contaminação e contágio, seguindo todas as orientações das autoridades de saúde. Mas o trabalho presencial das equipes da Liga Solidária não significa que esses programas ficaram distantes da internet na pandemia. Atividades online também começaram a ser feitas em grupos de WhatsApp e pelo Facebook.
O Programa Famílias, por exemplo, ofereceu oficinas virtuais de Culinária, Artesanato e Empreendedorismo, além de realizar lives para falar sobre o impacto da pandemia e atendimentos por meio de videochamadas, o que possibilitou às famílias o acesso à orientação psicológica e social. Por sua vez, o Programa Idosos lançou a campanha #euaindaquero, com fotos e vídeos gravados pelos idosos atendidos, que aposta na resiliência para enfrentar a pandemia e na esperança de ainda fazer muitas coisas no futuro.
Liga Solidária distribui ceias para 4 mil famílias, mas não é só no Natal
Para este Natal, a Liga Solidária distribui ceias natalinas para quatro mil famílias em comunidades de todas as regiões da capital paulista. A iniciativa alcança famílias atendidas pelos nove programas sociais da organização. Porém, logo no primeiro semestre, para minimizar os efeitos da pandemia, a Liga realizou uma série de ações entre os meses de abril e julho, como a campanha “Cestou na Liga”, com doação por três meses de cestas básicas de alimentos e produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica.
Também realizou a distribuição de cartões de alimentação no valor de R$ 150,00, o que aumentou em 10% a renda domiciliar per capita de mais de duas mil famílias residentes no bairro Jardim Esmeralda, região do Butantã. A Liga Solidária também distribuiu cestas básicas por meio de convênio com a SMADS (Secretaria Municipal de Assistência Social) e 10 mil máscaras de proteção, em parceria com a marca de roupas Aramis.
Liga Solidária: em São Paulo, distribuição de cestas básicas na pandemia para famílias em situação de alta vulnerabilidade (Foto: Liga Solidária/Divulgação)
Dificuldades para o estreitamento de vínculos
Mas se as distribuições de produtos são pontuais, com dias marcados, outros projetos da Liga Solidária são perenes e exigem presença diária da equipe. O Programa Famílias um dos principais eixos da organização, atende cerca de mil famílias e quatro mil pessoas. Outro programa fundamental é o Idosos, cujos beneficiados têm mais de 60 anos. Marina Nambu, gerente de Projetos Sociais da Liga Solidária, destaca a função social dessas ações:
Esses dois programas garantem o estreitamento de vínculos, que é um dos propósitos da Liga e se mostrou ainda mais importante agora, com a pandemia. O Famílias, por exemplo, organiza os benefícios que os usuários recebem, como cestas básicas, mas os colaboradores da Liga também atuaram em outras frentes, como dar orientação a quem precisou pedir o Auxílio Emergencial e encontrou dificuldades”, afirma.
Já o Programa Idosos tem uma grande responsabilidade, pois alguns atendidos precisam ser acompanhados de perto: “Alguns moram sozinhos, outros têm mobilidade reduzida, o que exige uma logística para ir até eles”.
Retrocesso: luta agora é por direito à alimentação
Segundo Shirley Christiane Basílio, coordenadora do Programa Famílias, a pandemia trouxe um retrocesso para as famílias em vulnerabilidade social.
Se anteriormente, o trabalho desenvolvido visava o empoderamento de pessoas que sonhavam com seu desenvolvimento, hoje voltamos a olhar e trabalhar em primeiro plano com a garantia de direito à alimentação, por exemplo. Quantas pessoas que tinham trabalhos formais perderam suas rendas e tiveram que entregar suas casas de aluguel e voltar a residir com suas famílias de origem”, afirma Shirley.
Outro fator importante se refere ao teletrabalho, realidade distante da maior parte da sociedade brasileira: “Grande parte das famílias atendidas pelo programa não tem acesso à internet via wifi ou dados móveis nem possui computadores. Quando muito tem um celular com internet para as crianças e adolescentes conseguirem ter acesso às aulas”.
Com a maior quantidade de pessoas dentro da mesma casa, Shirley contabiliza ainda o fator de risco devido à contaminação pelo vírus, além do aumento de despesas e declínio em suas condições de vida. “Lida-se também com a fragilidade de vínculos: atendemos a uma crescente demanda por atendimento psicossocial devido a conflitos familiares, inclusive com o aumento da violência doméstica”, complementa.
Liga Solidária: em São Paulo, distribuição de cestas básicas na pandemia para famílias em situação de alta vulnerabilidade (Foto: Liga Solidária/Divulgação)
ONG eleita em primeiro lugar na categoria esporte
Apesar das adversidades, muitas ONGs conseguiram se destacar nesse ano de 2020. O Instituto Futebol de Rua, de Curitiba, acabou reconhecido em primeiro lugar no Prêmio Melhores ONGs do Brasil 2020, na categoria esporte, pelos projetos e resultados alcançados ao longo deste ano. Promovido pelo quarto ano consecutivo pelo Instituto Doar, o prêmio teve 670 inscritos e reconhece as 100 melhores instituições. Trata-se do maior prêmio e reconhecimento do terceiro setor.
Com 35 ações realizadas desde abril, o Instituto Futebol de Rua conseguiu alcançar mais de sete mil pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social. Foram mais de oito toneladas de alimentos arrecadados por meio das campanhas desenvolvidas pelo Instituto, além de 2.000 itens de higiene pessoal, 800 sopas, 1.110 lanches e 1.300 litros de leite distribuídos. Uma parceria com a Central Única das Favelas (CUFA) também permitiu a entrega de 330 chips de telefone, fundamentais em um momento de aulas remotas.
Para o fundador da ONG, Alceu Natal Neto, os resultados são uma conquista e a superação das dificuldades encontradas por causa da pandemia. “O ano de 2020 foi de desafio para todos. Primeiro e principalmente para as famílias que atendemos, que viveram uma realidade de dificuldades ainda maiores. Depois para nossa equipe, que precisou se reinventar para não deixar que esses jovens e crianças ficassem desassistidos. Terminar o ano com tantas pessoas beneficiadas pelas campanhas que fizemos é muito gratificante”, afirma.
Fundado em 2006, em Curitiba (PR), o Instituto Futebol de Rua utiliza o esporte como ferramenta para o desenvolvimento social, educacional e cultural de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Por conta das atividades desenvolvidas ao longo dos meses, o Instituto foi reconhecido como uma das 100 melhores organizações do Brasil em 2020, pelo Prêmio Melhores ONGs, ficando em primeiro lugar na categoria esporte. O prêmio reconhece as boas práticas das ONGs em quesitos como governança, transparência, comunicação e financiamento.
Amigos do Bem já atendeu 75 mil famílias do sertão nordestino
Criada em 1993 e hoje atendendo 75 mil pessoas do sertão nordestino com projetos contínuos de Educação, Trabalho e Renda, Água, Moradia e saúde, a Amigos do Bem foi eleita a melhor organização do terceiro setor pelo prêmio Melhores ONGs de 2020 do Instituto Doar. A ONG promove mensalmente o desenvolvimento de mais de 140 povoados isolados no Nordeste (Ceará, Alagoas e Pernambuco). Nesta semana do Natal, voluntários de São Paulo viajaram para o sertão para levar recursos para mais de 150 mil pessoas.
O trabalho é realizado com todo o cuidado necessário durante a pandemia. Logo no início, foi acionado o Plano de Ação Emergencial da instituição. Mais de 1 milhão de pessoas de 300 povoados foram beneficiadas com: 172 mil Cestas Básicas para famílias do Sertão; abastecimento de 352 milhões de litros de água distribuídos; 180 mil atividades pedagógicas entregues para as crianças nas comunidades; 387 mil kits de higiene nos povoados; e apoio aos hospitais locais com insumos e equipamentos.
Principais realizações do projeto:
- 75 mil pessoas atendidas mensalmente de forma contínua;
- 140 povoados atendidos todos os meses;
- 10 mil crianças e jovens nos 4 Centros de Transformação;
- 180 mil refeições servidas todo mês para as crianças dos Centros de Transformação;
- 1.100 empregos gerados no sertão (Plantações, Fábrica de Beneficiamento de Castanha de Caju, Oficinas de Costura e Artesanato, Fábrica de Doces e Mel e Educadores e postos administrativos);
- 10.300 voluntários ativos;
- 123 cisternas para levar água à população;
- 50 poços artesianos perfurados;
- Mais de 540 casas construídas;
- Mais de 187 mil atendimentos médicos e odontológicos no último ano;
- Mais de 500 bolsas de estudo para faculdade;
- Mais de 845 milhões de litros de água distribuídos por ano.
Há 27 anos, atuamos no sertão nordestino, a região mais carente do nosso país. Estamos muito felizes com este reconhecimento, mas o nosso maior prêmio é ver a transformação na vida de milhares de pessoas. Agradeço aos nossos apoiadores e mais de 10.000 voluntários que seguem conosco nesta estrada do Bem”, comemora Alcione Albanesi, fundadora e presidente da Amigos do Bem.
Segundo ela, hoje, mais de 25 milhões vivem em estado de extrema pobreza, por conta das condições climáticas (altas temperaturas e seca), e com um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano do Brasil. “Esta miséria secular no sertão só irá mudar com a intervenção humana, por isso criamos diversos projetos para gerar oportunidades e promover uma mudança efetiva ”, conta Alcione.
Com Assessorias
Fonte https://www.vidaeacao.com.br/ongs-superam-desafios-e-mantem-trabalho-social-em-meio-a-pandemia/
Postado por Antônio Brito
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