01/12/2020

Como escola do Acre se tornou referência em educação inclusiva

Por Aldrin Jonathan

Escola de Rio Branco (AC), Clarisse Fecury reverbera práticas inclusivas estimulando trabalho colaborativo, engajando famílias e valorizando aprendizagem de todos

“Nós não podemos parar o processo de inclusão. Pelo contrário, precisamos aperfeiçoá-lo e melhorá-lo a cada dia: ele é real e importante para todos”.

É assim que Assis da Silva Ribeiro, diretor da Escola Estadual Clarisse Fecury, de Rio Branco (AC), descreve o aprendizado adquirido pelos profissionais da escola desde que a unidade se tornou referência em educação inclusiva Site externo no Acre, em 2012.

Caso da Escola Clarisse Fecury foi publicado no DIVERSA no mesmo ano e reúne as ações da instituição para proporcionar e garantir aprendizagem a todos os estudantes da escola. Entre as atividades, a escola oferecia aulas de Libras a todos os alunos para eliminar barreiras comunicacionais.

O estudo também faz parte do livro Educação Inclusiva na Prática Site externo. A obra foi lançada recentemente pelo Instituto Rodrigo Mendes Site externo em parceria com a Editora Moderna Site externo e Fundação Santillana Site externo.

Saiba mais 
Conheça estudos de caso de educação inclusiva em escolas comuns 
Instituto Rodrigo Mendes, Editora Moderna e Fundação Santillana promovem live para o lançamento do livro: Educação Inclusiva na Prática 
Site externo
Pesquisador reflete sobre luta por uma educação verdadeiramente inclusiva 

Assis está na Clarisse Fecury desde 2013, tendo atuado como professor de sala comum, coordenador pedagógico e agora diretor. Para ele, as práticas inclusivas realizadas pela escola na época do estudo de caso continuam impactando a realidade das ações pedagógicas:

No período do estudo de caso, as práticas inclusivas tiveram um salto importante e a própria secretaria estabeleceu um olhar mais carinhoso com a escola. Foi um trabalho que ganhou renome.

Impactando outras escolas da rede

Fachada da Escola Estadual Clarisse Fecury. Letreiro com o nome da escola está fixado em estrutura laranja acima de portão com grades brancas. Acima, telhado está pintado na cor verde. Fim da descrição.

A escola de ensino fundamental recebeu investimento para melhorar sua infraestrutura e garantir acessibilidade arquitetônica. Todo esse processo ganhou notoriedade e impactou outras unidades da rede estadual.

De acordo com o diretor, muitas unidades educacionais da comunidade utilizam as práticas pedagógicas da Clarisse Fecury como referência. “Durante a pandemia, por exemplo, recebemos contato de outras unidades para entender como estávamos atendendo os estudantes remotamente”, revela.

A ação foi importante no estímulo ao diálogo entre as escolas da região para a elaboração de estratégias pedagógicas que garantissem que nenhum estudante ficasse para trás durante a suspensão das aulas presenciais.

Conheça ações escolares adotadas durante a pandemia 
Educador cria blog para aulas de educação física no ensino remoto 
Retorno escolar: redes se preocupam com saúde, segurança e defasagem 
Um novo olhar sobre a inclusão na pandemia

“Garantir a aprendizagem para todos”

Atualmente a escola atende 473 estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental, dos quais 35 são público-alvo da educação especial Site externo. A comunidade escolar está localizada em uma região periférica da cidade, no bairro Santa Inês, e conta com famílias de baixa renda e índices negativos de violência.

Imagem aérea do entorno escolar com quarteirões e quadras próximas à escola. Há galpões e áreas arborizadas ao redor. Fim da descrição.
Imagem aérea do entorno escolar. (Fonte: Google Earth)

Diante dessa realidade, Assis reconhece a importância de potencializar práticas inclusivas para não excluir ninguém do processo de aprendizagem. Ele explica que o processo inclusivo vai muito além de proporcionar o acesso dos alunos à escola.

A nossa ideia é ter um processo inclusivo em todos os sentidos: incluir a criança no aspecto social, cultural e de ensino.

Para ele, é prioridade das escolas trabalhar a valorização das diferenças Site externo e as potencialidades dos estudantes e, dessa forma, “garantir aprendizagem para todos”.

O entendimento do diretor é reforçado pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica Site externo (IDEB) da escola. Em 2019, a Clarisse Fecury recebeu 6,9 como avaliação de aprendizado dos alunos – o que é maior do que a média estadual (6) e a média brasileira (5,6).

Em comparação com a época do estudo de caso, houve evolução positiva das notas do IDEB médio. A escola era avaliada em 4,6 em 2012 (2,3 pontos abaixo da atual), enquanto a média de Rio Branco era de 4,2.

Trabalho colaborativo

Para se tornar referência de respeito à aprendizagem no estado, Assis cita a importância da adaptação de determinadas atividades, levando em conta o currículo escolar e as especificidades de cada aluno.

As crianças recebem os mesmos conteúdos curriculares. Desconsiderar isso na elaboração das atividades não é inclusão e sim exclusão.

Como fator relevante para a realização de um planejamento pedagógico que considere as individualidades e potencialidades dos alunos, a escola valoriza o trabalho colaborativo entre os educadores.

Essa prática estimula o diálogo e a parceria entre os mediadores e os professores da sala comum e do Atendimento Educacional Especializado Site externo (AEE) na elaboração das aulas. Para Assis, essa prática é essencial para a promoção de estratégias pedagógicas que respeitem as características de todos os estudantes.

Conheça outras experiências de estímulo ao trabalho colaborativo 
Educadores apostam em trabalho colaborativo para aprendizagem de estudante 
Atendimento educacional especializado (AEE) e sala comum: trabalho colaborativo para a inclusão 
O papel dos professores de AEE na criação de uma cultura inclusiva nas escolas

Oficinas pedagógicas: o aluno como protagonista

Como exemplo de estratégia pedagógica inclusiva realizada pela escola, as oficinas pedagógicas estimulam o protagonismo dos estudantes no processo educativo.

As oficinas ganharam notoriedade na escola a partir da experiência de um aluno em 2018. Ele possuía grande habilidade para construir objetos com diversos tipos de material, mas não socializava com os demais.

Em diálogo com a gestão escolar, os educadores organizaram uma oficina pedagógica para potencializar sua habilidade construtora. A ideia foi colocar o próprio estudante na condição de protagonista, ensinando e compartilhando conhecimento com os colegas da turma.

De acordo com Assis, a experiência foi positiva tanto para o estudante, quanto para os profissionais de educação da escola. Houve reconhecimento e valorização do aluno como sujeito ativo do processo educacional e detentor de conhecimentos.

“Essa experiência me marcou, não vou me esquecer nunca”, afirma. A partir daí, a escola passou a realizar oficinas pedagógicas em todos os anos letivos, relacionadas às disciplinas curriculares.

Engajamento de familiares na gestão escolar

Além da integração entre educadores, a escola também conta com a participação ativa dos familiares nas etapas de decisão e na elaboração de propostas. Segundo o diretor da Clarisse Fecury, cerca de 70% das mães e dos pais são ativos nos processos decisórios.

Colocando em prática um modelo de gestão democrática, os familiares Site externo têm representatividade nos conselhos e comitês escolares, opinando sobre as prioridades da escola e discutindo sobre a alocação de recursos.

Conheça outras experiências que valorizaram a participação das famílias 
+ Famílias e escolas: oportunidade para fortalecimento de vínculos 
Projeto envolve famílias de estudantes e ensina matemática com relevância social para a comunidade

Assis explica que a participação dos familiares não é ilusória na Clarisse Fecury: é real, eficaz e tem impacto na aprendizagem. Isso é importante para que as diversas realidades vivenciadas pela comunidade escolar sejam consideradas nos processos de decisão.

Os pais compreendem a importância da escola e fazem parte das discussões. São elementos que contribuem para que nenhuma criança fique para trás.

Avanços e aprendizados necessários

Ainda que a escola Clarisse Fecury vivencie práticas inclusivas em sua metodologia, é necessário avançar em termos de uma educação para todas e todos. É o que acredita Assis.

Para ele, algumas questões – como a acessibilidade arquitetônica Site externo – já foram superadas na escola, mas ainda há o que ser feito. “Precisamos melhorar a nossa formação”, avalia, considerando ser dever da rede de ensino formar os educadores.

Para termos um avanço significativo é prioritária a formação dos profissionais de educação: do porteiro à cantina.

Além disso, também há a necessidade de desenvolvimento e melhoria da metodologia e da didática dos professores, a fim de alcançar todos os estudantes da sala. “Precisamos repensar as estratégias pedagógicas de acordo com a realidade de cada turma”, explica.

Como principal aprendizado adquirido pela escola ao longo dos últimos anos, o educador finaliza defendendo um dos princípios da educação inclusiva: todo aluno aprende!

Não podemos dizer que a educação inclusiva não funciona. Ela funciona sim! Os alunos são capazes e nós podemos aprender com eles!

Fonte  https://diversa.org.br/escola-acre-referencia-em-educacao-inclusiva/

POSTADO POR ANTÔNIO 

Nenhum comentário:

Postar um comentário