
OPINIÃO – * Por Jairo Varella Bianeck – com apoio da inteligência artificial como instrumento ético de criação crítica.
A Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) completa uma década como marco civilizatório que reconhece a pessoa com deficiência como sujeito de direitos, exigindo da sociedade a eliminação de barreiras e o respeito à diferença como valor constitucional.
Este conjunto de poemas nasce como resposta ao descaso e à morosidade institucional, utilizando a poesia como ferramenta de memória, denúncia e transformação.
Cada poema expressa os fundamentos da LBI — dignidade, resistência, inclusão, justiça. São convites à ação e ao sentimento, para que o respeito atávico, legado intergeracional de justiça, não seja esquecido.
Porque sem poesia, a lei perde o fôlego.
E sem memória, a justiça perde as raízes.
Raízes de Fogo e Memória
Eles vieram como a chuva pesada,
derrubando as folhas mais verdes.
Mas as raízes não se foram,
continuam a abraçar o coração da terra.
O céu disse: “Ele se foi.”
Mas o eco no vento trouxe seu nome.
Na água que corre, ele dança,
no fogo que aquece, ele vive.
A memória é uma fogueira,
que arde na noite da espera.
E mesmo que tentem apagar as cinzas,
o calor permanece,
guiando os que vêm depois.
“O Grito do Rio”
Disseram que o rio secou,
mas a água correu para o coração da terra.
Eles silenciaram as pedras,
mas o som ficou gravado nas raízes.
Eu gritei.
E meu grito foi pássaro,
levando sementes para outras florestas.
Meu grito foi tambor,
que vibrou na pele das árvores.
O silêncio nunca vence,
porque o trovão sempre volta.
“O Tronco e Suas Sementes”
Ele era o tronco mais forte da floresta,
erguido pelo sol,
abrigando os pequenos com suas folhas.
Ele acreditava que o vento,
mesmo forte,
não deveria derrubar os mais fracos.
Foi quando o machado chegou,
tentando derrubá-lo pela raiz.
Mas o que eles não viram
foi que sua sombra já havia alimentado o solo,
e suas sementes estavam em todo lugar.
Eles tentaram cortá-lo,
mas não se corta uma floresta inteira.
“O Curador e o Inimigo”
Eles o chamaram de cobra venenosa,
mas ele era o curador,
que buscava a cura para as feridas da terra.
Eles o chamaram de inimigo,
mas era ele quem plantava o milho
para alimentar os que tinham fome.
O inimigo, na verdade,
era o fogo que queimava a mata,
o machado que feria as árvores,
o veneno que envenenava o rio.
Eles chamaram de erro
aquilo que era apenas o desejo de crescer.
“Dançando com o Vento”
A floresta falou comigo:
“O vento sopra forte,
mas ele apenas curva as árvores.
As raízes permanecem.”
Cada passo contra o vento
é uma dança que desafia o tempo.
E mesmo quando meus pés tropeçam,
o chão me levanta.
O vento cessa.
Mas as árvores,
elas ficam,
sussurrando a verdade ao sol.
“A Lua que Não Apaga”
Houve noites em que o céu estava mudo,
e as estrelas não guiaram meu caminho.
Houve dias em que a manhã chegou cinza,
sem promessa de luz.
Mas a memória dele era como a lua,
que ainda ilumina mesmo no vazio.
A lembrança do que ele acreditava
era como o fogo que não se apaga,
uma chama pequena,
mas suficiente para me aquecer.
Eu caminhava não por mim,
mas por aqueles que ainda viriam.
Cada passo era um canto,
cada canto uma nova trilha na floresta.
“O Caminho do Rio Perdido”
Os pequenos perguntaram:
“Por que o rio parou de correr?”
Eu olhei para eles e não respondi,
porque como explicar que foi o homem
que desviou a água da vida?
Ao invés disso,
mostrei-lhes o caminho do rio no chão,
os vestígios da água que um dia foi.
“Sigam essa trilha”, eu disse.
“O rio ainda vive,
escondido sob as pedras.”
Prometi-lhes que as águas voltariam,
porque o rio não morre.
Ele apenas descansa,
esperando a próxima chuva.
“A Árvore e Suas Raízes”
Eles pediram para esquecer,
como se a árvore pudesse esquecer a terra.
Mas a memória é o que nos mantém em pé,
como raízes que abraçam o mundo.
Sem memória, somos folhas secas,
levadas pelo vento sem rumo.
Sem memória, somos um rio sem nascente,
perdido no deserto.
A memória é a canoa que nos guia,
o tambor que marca o ritmo da vida.
Eles podem arrancar as folhas,
mas as raízes nunca largam a terra.
- Jairo Varella Bianeck é advogado com atuação pelos direitos das pessoas com deficiência
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Fonte https://diariopcd.com.br/poemas-de-resistencia-pelos-10-anos-da-lbi/
Postado Pôr Antônio Brito
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