18/06/2020

O autismo e o orgulho

“Se há orgulho em ser autista? É incerto dizer, pois o orgulho deveria advir do que alcançamos e não daquilo com que nascemos. Seria como ter orgulho em ser loiro”

Escrito por Beatriz Carvalho, aluna de 5º ano do Mestrado Integrado em Psicologia, da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, este artigo, publicado originalmente no jornal O Público, propõe-se a discutir o dia do orgulho autista. Ao que a palavra orgulho da data se refere? Confira na leitura:

“No dia 18 de junho celebra-se o Dia do Orgulho Autista. Um dia dedicado à celebração da neurodiversidade e das caraterísticas únicas das pessoas com o transtorno.

Quando nos orgulhamos do autismo, estaremos a orgulhar-nos das dificuldades? Estaremos menosprezando essas características ao tomá-las como traços de identidade, esquecendo-nos da sua origem como transtorno?

Uma das premissas do Dia do Orgulho Autista é a ideia de que as pessoas com autismo não são doentes, mas sim que as suas características são únicas. No entanto, o próprio nome de “transtorno do espectro do autista” sugere as dificuldades e sofrimento que daí advêm, sendo insensato diminuí-lo ao ponto de “particularidades do indivíduo”. Ao fazê-lo, esquecemo-nos de tudo aquilo que as pessoas com autismo atingem, apesar da sua perturbação, ignoramos todos os esforços feitos para aumentar o bem-estar e sucesso desta comunidade e diminuímos o esforço que fazem para atingir os seus objetivos, apesar das suas dificuldades.

A celebração da diferença passa por elevar os sucessos das pessoas, apesar da mesma, e não pela normalização das suas dificuldades, e aí há muitos motivos para orgulho.

Sendo o transtorno do espectro autista caracterizado por déficits persistentes na comunicação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, existem vários marcos para a pessoa com autismo e para os técnicos que com ela trabalham que são motivos de orgulho. 

Sempre que uma pessoa com autismo ultrapassa o sofrimento que lhe causa a interação social e interage com sucesso, sempre que consegue reunir esforços para entrar no mercado de trabalho ou ir à escola todos os dias, apesar da sua percepção do mundo ser tão diferente da nossa, há um motivo de orgulho sem igual. Sempre que alguém deixa o preconceito de lado e olha para uma pessoa com autismo como para si mesmo, há motivo de orgulho.

Não deveria ser necessário um dia do Orgulho Autista para que todos nós olhássemos para a pessoa com autismo como um ser humano com valor e motivos de orgulho. Deveria estar implícito nas regras de convivência básica. Mas se assim for necessário, que esteja sempre presente que o transtorno do espectro autista se manifesta de formas totalmente diferentes de indivíduo para indivíduo, mas não o define.

Se há orgulho em ter autismo? É incerto, pois o orgulho deveria advir do que alcançamos, e não daquilo com que nascemos. Seria como ter orgulho em ser loiro. Mas certamente há orgulho em ser humano, ter defeitos e qualidades, ser único e atingir objetivos e metas”.

Fonte: Público Site externo

https://www.vidamaislivre.com.br/artigos/o-autismo-e-o-orgulho/

Postado por Antônio Brito 

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