18/08/2021

As Paralimpíadas e o Rádio

Por Geraldo Nunes

As Paralimpíadas de Tóquio começam agora em 24 de agosto e se estendem até o dia 5 de setembro de 2021 e, neste ano, delegação brasileira terá no Japão 253 paratletas competindo em 20 modalidades. O presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro – CPB, Mizael Conrado, estima que o país irá alcançar entre 60 e 75 medalhas.

Previsões apontam para uma classificação brasileira no quadro geral de medalhas entre as 10 primeiras nações do mundo. O CPB acredita que neste ano o Brasil chegará à sua centésima medalha de ouro, visto que faltam apenas treze para atingir essa meta. Outra previsão é superar as conquistas dos Jogos Rio 2016, quando foram 14 medalhas de ouro, 29 de prata e 29 de bronze.

Não se trata de exagero nem de soberba dos dirigentes, é que tradicionalmente o Brasil consegue mais medalhas com os paratletas do que com os atletas olímpicos. Pode parecer paradoxo, mas o sucesso dos paralímpicos está ligado ao fato do do nosso país estar entre os campeões mundiais de acidentes de trânsito e de violência urbana. Na reabilitação das vítimas desses infortúnios, o esporte entra como a terapia que mais ajuda na devolução da autoestima.

Contei tudo isso antes para explicar a história de como me tornei no primeiro repórter a noticiar pelo Rádio a abertura e os resultados de uma Paralimpíada. Em 1988, trabalhando para a Rádio Bandeirantes, entrevistei Gilberto Frachetta, do Movimento de Defesa das Pessoas com Deficiência – MDPD. Na ocasião ele contou que o Brasil iria participar de uma Paralimpíada em Seul, cujo início aconteceria logo após o término da Olimpíada que estava sendo disputada na capital da Coreia do Sul.

Fiquei entusiasmado com aquela novidade, pois confesso, na época quase ninguém tinha conhecimento da existência no Brasil de esportes olímpicos sendo praticados por pessoas com deficiências.

Naquele tempo o acesso à informação era restrito, não havia internet e as notícias vindas do exterior chegavam somente por teletipos por assinatura instalados nas redações. Conversei então com o José Paulo de Andrade, na época diretor de jornalismo e meu chefe na Band AM. Disse a ele sobre a minha intenção de noticiar na rádio os resultados do Brasil na Paralimpíada de Seul. Ele me autorizou, mas que fosse apenas um boletim diário durante o programa Bandeirantes Acontece apresentado na parte da tarde pelo radialista Antônio Carvalho.

Parti então para a luta na obtenção de notícias, mas não imaginava que iria encontrar tantas dificuldades para obter os resultados das competições. Não havia nem para onde ligar e no fim das contas consegui noticiar apenas a abertura do evento e o encerramento daquela competição, ainda assim tendo que “cozinhar” as notícias publicadas pela Folha de S. Paulo.

Somente agora passados tantos anos e com os recursos da tecnologia, consigo entender as dificuldades que encontrei na época. Os Jogos Paralímpicos de 1988, disputados na Coreia do Sul, foram os primeiros a serem organizados por um comitê internacional, ainda assim, houve transtornos em Seul nas questões de acessibilidade nos locais dos jogos e foi necessário construir outra vila olímpica adaptada às condições existentes. Além disso faltou aos organizadores, um trabalho de assessoria de imprensa. Segundo historiadores, aquela edição dos jogos é considerada hoje a gênese do movimento paralímpico moderno e a partir daquela experiência, tudo foi sendo aperfeiçoado.


Bandeira das Paralimpíada de Seul

No quadro geral de medalhas o Brasil obteve na Paralimpíada 1988 de Seul, a 25ª posição com 27 medalhas, sendo 4 de ouro, 9 de prata e 14 de bronze enquanto, na Olimpíada de Seul, nossos atletas conquistaram somente 6 medalhas, 1 de ouro, 2 de prata e 3 de bronze se classificando na 24ª posição.

Acredito que na Rádio Bandeirantes ninguém saiba mais quem foi o primeiro a falar sobre Paralimpíadas naqueles microfones, mas estou aqui para refrescar a memória de todos. Escreverei mais ainda sobre Paralimpíadas nas próximas postagens do Portal Reação. Aguardem.

*Geraldo Nunes se tornou paraplégico com um ano de idade, é jornalista especializado em mobilidade urbana, acessibilidade, assuntos de economia e história. Durante 20 anos sobrevoou a cidade de São Paulo na função de repórter aéreo. Contatos pelo e-mail: geraldo.nunes1@gmail.com

Fonte  https://revistareacao.com.br/as-paralimpiadas-e-o-radio/

Postado por Antônio Brito

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