Nossa proTEAgonista de hoje é a Maria Isabela! Ela tem 7 anos, convive com autismo e hiperatividade, e é filha de Solange Maria Rossi Silva, nossa entrevistada da vez.
Maria Isabela é filha única, vive com os pais em Bragança Paulista, em São Paulo, e foi diagnosticada com autismo aos 2 anos de idade. Anos depois, descobriu-se também que ela tem TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade).
Vamos conhecer mais sobre a história dessa família?
Conhecendo o autismo
Solange conta que o desenvolvimento da filha ocorreu de maneira típica até ela completar um ano de idade. Ela estava aprendendo a dar tchau e demonstrava estar prestes a soltar as primeiras palavrinhas, até que, então, houve uma mudança drástica em seu comportamento. Maria Isabela parou de dar tchau e regrediu em diversas habilidades que já havia adquirido.
O sinal de alerta veio quando a mãe leu informações sobre os sinais do autismo na caderneta de vacinação da filha. Maria Isabela andava na ponta dos pés, gostava de girar objetos, levava tudo à boca, girava o próprio corpo e se balançava pra frente e pra trás.
As diferenças de comportamento eram muito evidentes, no entanto, a pediatra de Maria Isabela dizia que não era autismo, e que essa ideia era apenas coisa da cabeça da mãe.
Buscando o diagnóstico
Inconformada com o posicionamento da pediatra e convencida de que a filha apresentava sinais de autismo, Solange levou a menina a um psiquiatra de confiança, que diagnosticou a menina quando ela tinha 2 anos de idade. Posteriormente, o mesmo diagnóstico foi feito por uma neuropediatra.
Lidando com a descoberta
Apesar de já ter quase certeza que a filha era autista, Solange conta que o momento da confirmação foi difícil:
“No início eu chorei bastante, a confirmação é sempre um choque. Fiquei muito triste, e esse período durou mais ou menos uma semana. Muitas pessoas chamam essa fase de luto, mas eu não gosto de usar essa palavra.
Depois desse período, eu dei uma sacudida na poeira e decidi correr atrás dos tratamentos. Para o meu marido foi mais difícil aceitar, ele passou por um período de negação e, na verdade, ele não sabe lidar muito bem com isso até hoje.”
O diagnóstico de TDAH
Maria Isabela tem dificuldade de se concentrar e se distrai com facilidade. Além disso, é difícil para ela permanecer sentada, o que a leva a correr e pular muito durante o dia. Momentos de agressividade e de impulsividade também ocorrem às vezes. Esses sinais foram atribuídos ao autismo pelos médicos, mas a mãe nem desconfiava que a menina pudesse ter transtorno de hiperatividade e autismo.
Quando Maria Isabela completou seis anos de idade, a família trocou de plano de saúde. Assim, surgiu a necessidade de trocar de neuropediatra. A nova médica, por sua vez, avaliou as habilidades de atenção e sinais de hiperatividade e impulsividade de Maria Isabela, diagnosticando a menina, então, com TDAH.
Terapias para autismo e hiperatividade
Maria Isabela faz uma lista de terapias para autismo e TDAH:
- Terapia ABA.
- Terapia ocupacional.
- Musicoterapia.
- Fonoaudiologia.
Ela também já frequentou sessões de fisioterapia, que a ajudaram a aperfeiçoar o andar, pois quando tinha dois anos, Maria Isabela dava alguns passinhos, mas logo caia. Hoje a menina anda muito bem e não tem mais a necessidade de frequentar as sessões.
Maria também fazia equoterapia, que é a terapia realizada com cavalos. Solange conta que pretende voltar a levar a filha para as sessões, pois além de ser extremamente benéfico para a menina, ela pede para montar no cavalo toda vez que passa em frente ao local que frequentava.
Mas não é só na equoterapia que Maria Isabela tem contato com os animais. As sessões de terapia ocupacional contam com a presença da cachorrinha Pipoca, e a menina adora!
Aperfeiçoando as habilidades de comunicação
Solange conta que o progresso na fala de sua filha veio só depois de iniciar o tratamento com uma fonoaudióloga especializada em autismo.
A menina já fazia tratamento com outra profissional há muitos anos, no entanto, por ser uma fonoaudióloga que atendia demandas mais gerais da população, não houveram resultados significativos na época.
Após três meses de atendimento com a profissional especializada, Maria Isabela começou a pronunciar suas primeiras palavras. Solange relembra que. junto à nova fonoaudióloga, a filha começou a terapia ABA. Com a junção dessas terapias, ela viu Maria Isabela dar um grande salto no desenvolvimento, adquirindo várias habilidades.
Apesar de ter adquirido a habilidade da fala, Maria Isabela ainda não usa isso para se comunicar de forma 100% funcional. A mãe conta que muitas vezes a menina responde a perguntas com frases dos desenhos animados que assiste, por exemplo.
Solange também destaca o papel importante da terapia ocupacional no desenvolvimento pedagógico da filha, que antes tinha muita dificuldade com a coordenação motora fina, mas agora já consegue manusear o lápis.
Entre o autismo e a hiperatividade, como foi trabalhar a independência
Atualmente, a garotinha de 7 anos tem personalidade forte e não aceita imposições, gosta de ser independente. Ela é quem escolhe suas próprias roupas, sapatos, e inclusive, ela mesma se veste. A mãe conta que quando a menina não quer vestir determinada peça, não adianta insistir, pois ela não coloca.
A menina também faz a própria alimentação, vai sozinha ao banheiro e até se limpa, no entanto, a mãe prefere ajudá-la com isso, para garantir que a higiene seja feita de forma adequada. Ela também escolhe o que assistir, e tem comportamento repetitivo com os entretenimentos que consome, sendo bastante comum que ela fique voltando em determinado trecho de um desenho, por exemplo.
A mãe incentiva o comportamento de independência da menina, permitindo que ela escolha onde quer ir passear, o que vai comer e quais brinquedos ela vai levar..
Mais sobre a personalidade de Maria – além do autismo e da hiperatividade
Solange também falou sobre a personalidade da menina para além do autismo e da hiperatividade:
“Ela é muito carinhosa, mas quando fica brava, sai de baixo! Gosta muito de crianças pequenas e, sempre que vê um bebê, quer fazer carinho. É claro que com a pandemia eu não posso deixar ela fazer isso, mas é algo que ela sempre gostou.
A Maria Isabela é amorosa, risonha e brincalhona. Faz amizades com facilidade e puxa as pessoas pra brincar onde chega, não importa se são crianças ou adultos. “
Autismo e hiperatividade: os desafios da jornada
Solange relata que, apesar de viver em uma cidade que não é tão pequena, falta acesso a profissionais qualificados para trabalhar com o autismo e hiperatividade:
“Não foi fácil encontrar terapeutas especializados pra ela. Procuramos no particular, tentamos pelo convênio, no SUS… por um tempo ela foi atendida pelo SUS. A terapeuta do convênio também atendia no SUS, e nós migramos pra lá porque eles tinham mais ferramentas pra trabalhar com a criança do que o convênio.
Com esse primeiro convênio eu enfrentei muita luta até conseguir chegar nos profissionais capacitados pra atender a minha filha. Eu passei muita dificuldade nessa época, chorei demais, sofri demais, mas nunca desisti de buscar tudo que ela precisava.
Quando eu mudei de convênio, graças a Deus, eu consegui tudo mais rápido e mais fácil. Ela nunca ficou sem atendimento, mas até chegar no tratamento mais adequado pro quadro dela, foi demorado.
Hoje a maior dificuldade é ser sozinha na rotina de cuidados e tratamentos dela. O pai dela sai cedo e volta tarde, então ele não tem tanto tempo de participar. Tenho uma irmã que me ajuda, mas a responsabilidade maior fica mesmo sobre os meus ombros.”
Autismo em dobro, será?
A mãe nos conta que desconfia que também possa ter um grau de autismo leve:
“Um grande desafio é conseguir lidar com as emoções do autista quando ele não consegue expressar o que ele quer ou sente. Eu também tenho essa dificuldade e desconfio que eu esteja dentro do espectro. Mas o diagnóstico para as mulheres é muito difícil. Sendo uma mulher adulta então, nem se fala”, conta Solange.
Porém, é importante lembrar que não existe autodiagnóstico e só profissionais especialistas podem dar o veredito.
A visão da mãe sobre o autismo
“O autismo te revela quem são seus verdadeiros amigos, quem realmente está com você para o que der e vier. É como um filtro que te dá a chance de ver verdadeiramente quem são as pessoas na sua vida. Digo isso porque uma grande decepção foi ver quase toda a minha família se afastar de nós.
Mas ele também traz muitas coisas boas. Maria Isabela sempre foi muito abençoada com professores maravilhosos, professores de apoio, mediadores… no primeiro e no segundo ano na escola, ela teve uma tutora que foi um anjo em nossa vida, de quem eu me considero uma irmã mais velha. Ela foi fundamental no desenvolvimento dessa criança na pré-escola, trabalhando com muito amor.
Então, o autismo também traz muitas coisas boas, como conhecer profissionais maravilhosos e engajados em dar um futuro melhor para o autista. A gente precisa olhar sempre para os dois lados.
O ano de 2020 foi um ano de muitos desafios, mas nós vencemos! Mesmo tendo aulas em casa, ela aprendeu e evoluiu, e isso me deixa muito feliz.”
Conselho de mãe
E para finalizar, pedimos para Solange deixar um recado para os pais, mães, familiares e responsáveis que estejam descobrindo agora o mundo do espectro autista. Confira o que ela disse:
“Nunca comparem a sua criança com a criança do vizinho, do parente… toda criança é única, seja ela neurotípica ou autista, cada uma tem seu jeitinho.
Acredito que nós, pais, precisamos parar com essa idealização do “filho perfeito”. A única coisa que temos certeza quando estamos esperando uma criança é que estamos grávidas. No entanto, como a criança vai ser, nós não podemos prever.
Eu nunca imaginei que eu pudesse ser mãe de uma criança autista. Fui alertada sobre o risco de ter uma criança com Síndrome de Down, afinal, tive a minha primeira e única gestação aos 43 anos. Sabia que eu poderia ter uma criança atípica, mas o autismo nunca havia passado pela minha cabeça.
Maria Isabela é a prova de que pra tudo nessa vida, tem um jeito! Pode ser um choque, pode passar pela sua cabeça que você não vai conseguir, ou que é o fim do mundo, mas não é!
Haverão dias exaustivos, mas também terão dias de muita alegria! Eu demorei cinco anos e meio para ouvir ela dizer “mamãe”, e eu só aguentei chegar até ai com muita fé. Fé em um Deus e fé na minha filha.
Acreditem nos seus filhos. Eu continuo acreditando e me esforçando pra ela ter acesso às ferramentas pra isso acontecer. Maria Isabela ainda vai muito longe!“
Fonte https://www.autismoemdia.com.br/blog/autismo-e-hiperatividade/
Postado por Antônio Brito
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