
O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) comemora 30 anos de sua fundação neste domingo, 9 de fevereiro de 2025. Dos primeiros Jogos Paralímpicos sob a gestão do CPB, em Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996, até 2024 em Paris, foram oito edições e uma notável evolução nos resultados.
Foram 21 medalhas em Atlanta, diante de 89 em Paris, recorde de pódios do Brasil nas edições dos Jogos Paralímpicos. Mas a história do CPB não se destaca apenas por resultados expressivos no megaevento ou em Mundiais com o apoio a cada uma das modalidades que administra (atletismo, natação, tiro esportivo e halterofilismo).
A evolução do paradesporto brasileiro também se dá por projetos como os Centros de Referência, espalhados pelo Brasil e que inclui desde o atleta iniciante até o alto rendimento, o moderno Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, as Paralimpíadas Escolares e o Festival Paralímpico.
Reunimos alguns fatos e curiosidades que marcaram a trajetória do Comitê Paralímpico do Brasil nesses 30 anos.
Sedes
O CPB já teve sede em três cidades diferentes: Niterói (RJ), Brasília (DF) e São Paulo (SP). Após a fundação, em 9 de fevereiro de 1995, Niterói foi a primeira sede. Em 2002, sob a gestão do presidente Vital Severino, a sede mudou para Brasília. Em 2016, com a inauguração do Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, durante o mandato de Andrew Parsons, a sede foi para a capital paulista, onde está até hoje.
Presidentes
O CPB teve cinco presidentes na sua história: João Batista Carvalho e Silva, Vital Severino, Andrew Parsons, Mizael Conrado e José Antônio Ferreira Freire, eleito presidente para o ciclo 2025-2029 em outubro do ano passado. João Batista ficou de 1995 a 2001. Ele acompanhou a criação da Lei Agnelo Piva, fundamental para o desenvolvimento do esporte adaptado no Brasil. Já Vital Severino ficou de 2001 a 2009. Em sua gestão houve reestruturação na classificação dos atletas, que deixaram de competir separadamente por tipo de deficiência e passaram a ser divididos por modalidade. Andrew Parsows assumiu em 2009 e, na sua gestão, nasceu o Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, em 2016.
Parsons ficou até 2017, quando Mizael Conrado foi eleito. Na sua gestão, o Brasil conquistou a melhor campanha na história de uma edição dos Jogos Paralímpicos, com um total de 89 pódios – 25 de ouro, 26 de prata e 38 de bronze e o quinto lugar geral em Paris 2024, além de diversas campanhas históricas em Campeonatos Mundiais e Jogos Parapan-Americanos. Também houve o surgimento de projetos voltados à iniciação esportiva, como o lançamento do projeto Centro de Formação Esportiva, com a participação de mais de 500 crianças com idade escolar por ano, além do surgimento do Festival Paralímpico em 2018, que já movimentou mais de 100 mil pessoas com deficiência em 70 cidades do país.
Em 1º de janeiro de 2025, José Antônio Ferreira Freire assumiu o posto da presidência da entidade. Com mais de 40 anos de atuação no Movimento Paralímpico, divididos entre atleta e dirigente, José Antônio era presidente da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV) por duas gestões recentes, quando foi eleito em 2017 e reeleito em 2021.
Mais pódios
O Brasil já conquistou 462 medalhas em toda a história dos Jogos Paralímpicos, com 134 ouros, 158 pratas e 170 bronzes. Mas a maioria desses pódios aconteceram após a fundação do CPB. Sob a gestão do Comitê, foram 399 medalhas conquistadas na história dos Jogos (Atlanta 1996 a Paris 2024), sendo 120 ouros, 131 pratas e 148 bronzes.
Primeiros Jogos
Os Jogos Paralímpicos de Atlanta 1996 foram os primeiros que o Brasil participou após a fundação do CPB. Naquela ocasião, os atletas do país conseguiram 21 pódios, sendo dois ouros, seis pratas e 13 bronzes. A quantidade de medalhas foi três vezes maior em relação aos sete pódios obtidos em Barcelona 1992. Viajaram 60 atletas representando o país naquela edição, recorde até então.
Primeiros ouros
Os primeiros medalhistas de ouro pelo Brasil em Jogos Paralímpicos após a fundação do CPB foram o paulista Antônio Tenório, do judô, e o paranaense José Afonso Medeiros, o Caco, da natação. Tenório conquistou o primeiro de seus quatro ouros paralímpicos na categoria até 86kg, enquanto Caco venceu nos 50m borboleta. Na ocasião, foi o único atleta da natação brasileira a conquistar uma medalha de ouro nos Jogos de Atlanta 1996.
Ajuda do Rei
Pelé, quando era Ministro Extraordinário do Esporte, acompanhou a delegação brasileira nos Jogos Paralímpicos de Atlanta 1996. O “Rei do Futebol” foi ministro entre 1995 e 1998 no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Pelé ajudou o Comitê Paralímpico Brasileiro a ganhar projeção nacional e a aproximar-se de patrocinadores, artistas e meios de comunicação.
Mais recursos
A partir de 2021, o CPB começou a contar com mais recursos para a gestão e a promoção do esporte paralímpico nacionalmente após a criação da Lei Agnelo Piva. A norma passou a destinar recursos financeiros para o esporte paralímpico brasileiro. A lei foi sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na época, ficou definido que 2,7% da arrecadação bruta das loterias federais seria repassada ao CPB e ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Do valor repassado, 37,04% são destinados ao CPB.
Casa moderna
O Centro de Treinamento Paralímpico foi inaugurado em 23 de maio de 2016 e conta com 95 mil metros quadrados de área construída. A data foi decretada como o “Dia do Esporte Paralímpico” pela cidade de São Paulo. A inauguração ocorreu na gestão do presidente Andrew Parsons e hoje é referência para o paradesporto sendo um dos quatro melhores CTs em todo o mundo.
O local também conta com a certificação ISO 9001 que o CPB recebeu pelo seu sistema de gestão de processos do Centro de Treinamento Paralímpico. Este título atesta que o CPB executa as melhores práticas os serviços de hotelaria e realização de eventos relacionados ao esporte paralímpico, de acordo com padrões internacionais de gestão no terceiro setor.
O CT Paralímpico também já recebeu mais de 2 mil competições nacionais e internacionais em sua história desde a inauguração, em 2016. Somente em 2024, o local sediou 418 eventos esportivos, que receberam 23.505 atletas em competições e outros 3.648 em treinamentos. Entre os os serviços hoteleiros, foram 206.525 refeições servidas e 12.465 pessoas que se hospedaram no hotel nos últimos 12 meses.
Novos talentos
Quatorze anos após a sua fundação, o Comitê deu origem às Paralimpíadas Escolares, considerado o maior evento mundial para crianças com deficiência em idade escolar. A primeira edição da competição aconteceu em 2009. Talentos do paradesporto brasileiro já passaram pelas Paralimpíadas Escolares, como os velocistas Alan Fonteles, ouro nos Jogos Paralímpicos de Londres 2012, Verônica Hipólito, prata no Rio 2016, e Petrúcio Ferreira, recordista mundial nos 100m (classe T47) e tricampeão paralímpico.
Nasce uma estrela
O CPB também presenciou o surgimento de uma das maiores estrelas do esporte paralímpico mundial. O nadador Daniel Dias é o atleta brasileiro que mais conquistou medalhas nos Jogos Paralímpicos. Foram 27 pódios, em quatro edições: 14 de ouro, sete de prata e seis de bronze. Ele conquistou medalhas nos Jogos Paralímpicos de Pequim 2008 (nove), Londres 2012 (seis), Rio 2016 (nove) e Tóquio 2020 (três).
Daniel Dias também é o maior medalhista de ouro em uma mesma edição: foram seis em Londres 2012. Ele conquistou a cor dourada nos 50m borboleta (S5), 100m peito (SB4), 50m costas (S5), 200m livre (S5), 100m livre (S5) e 50m livre (S5).
Feitos na neve
Em 2014, pela primeira vez o Brasil teve representantes nos Jogos Paralímpicos de Inverno, em Sochi (RUS). Foram dois atletas competindo na Rússia: André Cintra, no esqui alpino, e Fernando Aranha, no esqui cross-country. André ficou em 26º em sua modalidade, na prova de velocidade, enquanto Fernando não avançou às finais no 1km de velocidade, na prova de sprint, e ficou em 21º nos 10km sentado e em 15º nos 15km sentado.
Os Jogos de PyeongChang 2018 foram marcados pela primeira participação feminina brasileira e o melhor resultado do Brasil em Jogos de Inverno. A paranaense Aline Rocha foi a primeira mulher a representar o país no evento. Nas performances solo, ela conquistou dois top 15: nos 12km ficou em 15º e nos 5km em 12º lugar.
Já o rondoniense Cristian Ribera, de apenas 15 anos na época, conquistou o sexto lugar na prova de 15km. Esta foi a melhor marca de um brasileiro em Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno. Ele também conquistou a primeira medalha do Brasil em Mundiais de esportes de inverno, em 2022, na Noruega. Em janeiro daquele ano, Cristian ganhou a medalha de prata no esqui cross-country na prova do sprint para atletas sentados, com 2min41s52. O ouro ficou com o russo Ivan Golubkov.
Pelo Brasil
Os primeiros Centros de Referência de esporte paralímpico no país neste formato atual foram criados em 2019. Eles fazem parte do Plano Estratégico do Comitê Paralímpico Brasileiro, elaborado em 2017 e revisitado em 2021. O objetivo do projeto é aproveitar espaços esportivos em estados de todas as regiões do país para oferecer modalidades paralímpicas, desde a iniciação até o alto rendimento. Há centros por todo o Brasil, como Salvador, Campo Grande, Brasília, Fortaleza, Rio de Janeiro, cidades do interior paulista, entre outras localidades.
Todos os Centros de Referência funcionam por meio de parcerias com universidades, bem como com secretarias municipais e estaduais.
CT saudável
O CT Paralímpico foi um dos polos de vacinação para atletas, membros da comissão e jornalistas que participaram dos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020, em meio à pandemia de Covid-19. Os Jogos, marcados para acontecer em 2020 inicialmente, precisaram ser adiados em um ano, e foram disputados apenas entre 24 de agosto e 5 de setembro de 2021.
A ação foi fruto de um acordo interministerial entre os Ministérios da Defesa, da Saúde e da Cidadania, em coordenação com o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que permitiu a imunização de cerca de 1.800 pessoas. As vacinas foram doadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
Maior delegação
As maiores delegações do Brasil na história dos Jogos Paralímpicos foram formadas após a fundação do CPB. No Rio 2016, foram 278 atletas, considerando apenas aqueles com deficiência. Naquela edição em casa, os brasileiros somaram 72 pódios, com 14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes. Como país-sede, o Brasil pode participar das 22 modalidades disputadas na competição realizada no Rio. Ao todo, foram 181 homens e 97 mulheres convocados.
Já nos Jogos de Paris 2024, o país contou com a maior delegação já anunciada para uma edição dos Jogos fora do Brasil. Foram 255 atletas com deficiência na competição na capital francesa. Ao todo, também foram convocados 19 atletas-guia (sendo 18 do atletismo e 1 do triatlo), três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo, totalizando 280 competidores na capital francesa.
Furando a bolha
Outro feito esportivo inédito em que o CPB fez parte foi a participação da mesatenista Bruna Alexandre nos Jogos Paralímpicos e Olímpicos do mesmo ano. Foi a primeira atleta brasileira apta a defender o Brasil na mesma edição dos dois megaeventos, em Paris 2024.
Antes de Bruna Alexandre, o timoneiro Nilton da Silva Alonço, conhecido como Gauchinho, disputou Jogos Olímpicos e Paralímpicos, mas fez o caminho inverso ao da catarinense. Ele participou das edições olímpicas de Montreal 76, Los Angeles 84 e Seul 88. Depois, em Pequim 2008, compôs o barco quatro com timoneiro da delegação paralímpica brasileira. Gauchinho morreu em 2023.
Na capital francesa, Bruna conquistou dois bronzes, no individual feminino e nas duplas femininas da classe WD20. Já nos Jogos Olímpicos da França, a atleta catarinense disputou a competição por equipes, jogando em duplas ao lado de Giulia Takahashi e uma partida de simples contra o time da Coreia do Sul. Ela tem mais quatro medalhas paralímpicas: prata no individual e bronze em duplas, em Tóquio 2020, e dois bronzes, individual e em duplas, nos Jogos do Rio 2016.
Melhor campanha
Foi sob a gestão do CPB que o Brasil também registrou a sua melhor participação na história dos Jogos Paralímpicos. Em Paris 2024, os brasileiros conquistaram 89 medalhas ao total: 25 de ouro, 26 de prata e 38 de bronze, superando em 17 pódios os 72 obtidos em Tóquio 2020 e Rio 2016, que até então eram as melhores campanhas do país na competição.
Pela primeira vez, o Brasil chegou ao top 5 no quadro geral de medalhas dos Jogos. Os 25 ouros deixaram o país atrás apenas de China (94), Reino Unido (49), Estados Unidos (36) e Holanda (27). No total de pódios, só três países conquistaram mais do que o Brasil, que teve 89: China (220), Grã-Bretanha (124) e Estados Unidos (105).
Primeiros frutos
O maranhense André Martins foi o primeiro atleta revelado pela Escola Paralímpica de Esportes a disputar uma edição dos Jogos Paralímpicos, quando estreou em Paris 2024. O projeto também é um dos mais importantes benefícios que o CPB começou a disponibilizar para crianças e jovens com deficiência.
As escolinhas do Centro de Formação Paralímpica do CPB se iniciaram nas dependências do Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, em 2018. Tem como objetivo promover a iniciação de crianças com deficiência física, visual e intelectual na faixa etária de 7 a 17 anos. Hoje, oferece 15 modalidades paralímpicas: atletismo, badminton, bocha, esgrima em cadeira de rodas, futebol de cegos, goalball, halterofilismo, judô, natação, rúgbi em cadeira de rodas, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas, tiro com arco, triatlo e vôlei sentado. Todas compõem o atual programa dos Jogos Paralímpicos.
Fruto desse projeto, André Martins disputou os Jogos de Paris pela bocha na classe BC4 (para atletas que têm deficiências severas, mas que não recebem assistência). O jovem atleta, que teve diagnosticada uma Distrofia Muscular de Duchenne (doença neuromuscular genética) aos cinco anos de idade, começou a praticar bocha desde que iniciou no projeto do CPB. Ficou por cinco anos na Escolinha, de 2018 a 2023.
Mais inclusão
Em 2024, o Festival Paralímpico contou com a presença de um número recorde de inscritos, mais de 44 mil crianças participaram das duas edições do evento, a primeira em setembro e a segunda em dezembro. O Festival proporciona a crianças com e sem deficiência a vivência em modalidades paralímpicas, de maneira recreativa e lúdica, bem como difunde o Movimento Paralímpico por todo o território nacional. Podem participar crianças e jovens, de 7 a 17 anos.
O Festival Paralímpico Loterias Caixa foi realizado pela primeira vez em 2018. À ocasião, foram 48 locais com a participação de mais de 7 mil crianças. Em 2019, o evento teve 70 sedes e recebeu mais de 10 mil inscritos. No ano seguinte, a ação foi cancelada devido à pandemia de Covid-19 e retornou em 2021, com 8 mil participantes em 70 núcleos.
Em 2023, o Festival Paralímpico também contou com duas edições (em maio e setembro) reunindo 21 mil crianças e jovens em cada uma delas, somando um total de 42 mil inscrições acumuladas.
Inclusão na Gestão
Em 2024, foi definido que a presidência do CPB deverá ser ocupada apenas por pessoas com deficiência e elegíveis para o esporte paralímpico. A medida já terá validade na próxima eleição do Comitê, prevista para outubro de 2028 – após os Jogos Paralímpicos de Los Angeles 2028. A proposta foi inédita entre os comitês mundo afora.
Somente pode ser indicado, como membro da chapa, à eleição para o cargo de Presidente do CPB pessoa com deficiência que tenha praticado modalidade esportiva paralímpica e participado, na qualidade de atleta, de ao menos um campeonato nacional da respectiva modalidade.
Mais transmissão
Os Jogos Paralímpicos foram transmitidos pela primeira vez na televisão dos brasileiros um ano após a fundação do CPB, nos Jogos de Atlanta 1996, pela TVE. Mas foram os Jogos Paralímpicos de Atenas 2004 que ficaram marcados pela estratégia de comunicação do CPB para abranger ainda mais a cobertura televisiva.
Nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, a Globo dedicou um dos canais do SporTV, em TV fechada, quase exclusivamente à competição, além de ter chamadas em telejornais e boletins diários na TV Globo, em rede aberta, das conquistas dos atletas brasileiros na capital francesa. Pela segunda vez na história, a disputa do Brasil por medalha no futebol de cegos teve transmissão ao vivo na Globo para todo o Brasil.
Assessoria de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro (imp@cpb.org.br)
Fonte: https://cpb.org.br/noticias/confira-fatos-que-marcaram-os-30-anos-do-comite-paralimpico-brasileiro/
Postado Pôr: Antônio Brito
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