10/02/2025

Atletas relatam evolução do Movimento Paralímpico após fundação do CPB

 

 Ádria Santos carrega bandeira do Brasil e medalha no peito nos Jogos de Atlanta 1996 | Foto: Acervo CPB

O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) completa 30 anos de fundação neste domingo, 9 de fevereiro de 2025. A evolução ano a ano em resultados, como a histórica participação brasileira nos Jogos Paralímpicos de Paris em 2024, e nos projetos para iniciantes e crianças, como o Festival Paralímpico, são frutos do trabalho de várias pessoas, algumas delas que viveram o Movimento Paralímpico antes da criação do CPB.

Ex-atletas do alto rendimento esportivo e que vivenciaram o antes e o depois do surgimento do CPB relatam melhorias do Movimento Paralímpico nacional após a atuação da entidade.  

Em 1989, José Afonso Medeiros, o Caco, tinha 22 anos e estava em Brasília, no complexo esportivo Mané Garrincha, para participar de provas de natação em um evento do paradesporto. Nadar se transformou em paixão depois de receber indicação médica para hidroterapia ao ser diagnosticado com mielite transversa, uma inflamação que afeta a medula espinhal, bloqueando a transmissão de impulsos nervosos, o que limita os movimentos. 

Na era pré-Comitê, associações diversas organizavam as competições para o alto rendimento de atletas com deficiência. Mas a falta de uma estrutura ideal dificultava.

“Mudou demais depois da criação do CPB. Para você ter ideia, em 1989, disputei meu primeiro Campeonato Brasileiro, em Brasília, sem ter o espaço reformado, a estrutura era antiga. Dormíamos no Mané Garrincha, ao lado da piscina. Os alojamentos eram precários e, em relação à comida, graças a Deus meu pai me dava dinheiro para eu comer fora [em restaurantes, por exemplo]. Porque a pessoa que comia ali tinha problemas estomacais”, contou Caco.

O frio da piscina era outro agravante para atletas tetraplégicos, que têm mais sensibilidade à água gelada. Naquela época, as viagens internacionais ocorriam somente com ajuda de alguém que topasse financiar a viagem, como empresários normalmente, e sem qualquer contrapartida já que o paradesporto não tinha visibilidade na mídia.

“Eu tinha uma boa estrutura de treino porque eu era sócio do Curitibano [em Curitiba]. Então usava os equipamentos deles, que eram bons, apesar de não ter tanta acessibilidade, não tinha rampa. Mas em relação ao local de treino de outros atletas, eu estava no paraíso. No entanto, as viagens internacionais eram complicadas. Muitas vezes pedíamos ao Governo, que ajudava com passagens. Mas às vezes, dois dias antes da viagem, a passagem não tinha chegado, ou chegavam menos passagens. Então cortava o pessoal da comissão técnica ou do apoio. Ficava um verdadeiro ‘esse vai, aquele não vai’. Era assim”, recordou.

Caco foi o primeiro nadador homem a ganhar uma medalha de ouro em Jogos Paralímpicos, em Atlanta 1996, nos 50m borboleta da classe S7 (limitações físico-motoras), um ano após a fundação do CPB.

“Foi uma mudança total com a fundação do CPB. Passamos a ficar em hotéis, a fazer concentração, a ter acompanhamento nutricional e até tratamento fisiológico. Começaram a ter as Seletivas. O Comitê também deixou mais claro as questões da classificação esportiva, quem participaria dos eventos. Se você ficasse ali entre os 15 ou 20 melhores do mundo já tinha passagens e tudo pago. E nos anos 2000 começaram as bolsas, que ajudaram muito nessa evolução dos atletas que passaram a ter recursos para investir nos treinamentos”, lembrou Caco, que hoje tem 57 anos e exerce a engenharia. 

Uniformes sem padrão

Ádria Santos, de 50 anos, é uma das maiores medalhistas paralímpicas do país entre as mulheres, com 13 conquistas entre Seul 1988 e Pequim 2008. A velocista ganhou no atletismo quatro ouros, oito pratas e um bronze.

Suas duas primeiras pratas, em 1988, e seu primeiro ouro, em 1992, foram no período anterior à fundação do CPB, o que torna essas conquistas ainda mais impactantes devido às dificuldades para treinar e viajar para competições.

“Eu treinava em pista de carvão. A chegada do CPB mudou muitas coisas. Passamos a treinar em pistas sintéticas, parecidas com as quais competíamos. Começamos a viajar antes da competição para se concentrar. Eu digo que minhas conquistas no início de carreira foram pela paixão e dedicação que eu tenho pelo esporte. Sempre fui apaixonada pelo atletismo, então competia comigo mesmo em busca dos resultados”, contou a velocista mineira. 

Ela lembra de que no período anterior à criação do CPB havia dificuldades até com os uniformes, que chegavam muitas vezes em tamanhos diferentes, maiores ou menores, do número real do atleta. 

“É uma estrutura bem diferente. E a visibilidade para os atletas aumentou muito depois do CPB. Na época você precisava correr atrás de empresas que ajudassem, depois ficou mais fácil ter esse contato com pessoas que gostariam de investir no esporte para pessoas com deficiência. A profissionalização foi fundamental para isso”, disse Ádria. 

Em 1992, ano em que Ádria ganhou a medalha de ouro em Barcelona nos 100m da classe T11 (atletas com deficiência visual), o Brasil enviou 41 atletas e ganhou 14 medalhas. Foram os últimos Jogos Paralímpicos antes da fundação do CPB. Em 2024, em Paris, foram 255 atletas com deficiência convocados e 89 pódios conquistados (25 medalhas de ouro, 26 de prata e 38 de bronze), a melhor campanha da história na competição.

Assessoria de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro (imp@cpb.org.br)

 Fonte: https://cpb.org.br/noticias/atletas-relatam-evolucao-do-movimento-paralimpico-apos-fundacao-do-cpb/

Postado Pôr: Antônio Brito

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