No Brasil, mais de 7 milhões de pessoas apresentam alguma deficiência visual, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Deste total, cerca de 580 mil são completamente cegas e mais de 6,5 milhões apresentam baixa visão, seja por consequências congênitas ou adquiridas ao longo da vida.
A rotina dessas pessoas é repleta de desafios, principalmente com relação à mobilidade: barreiras de acessibilidade presentes nos espaços urbanos, com as difíceis condições de locomoção pelas calçadas cheias de desníveis e buracos, placas no meio do caminho — muitas vezes na altura da cabeça, rampas inadequadas, travessias perigosas, carros estacionados irregularmente, entre tantos outros obstáculos. Para vencer esses desafios, é preciso que eles superem os limites dos olhos. Sua visão está na ponta dos dedos ou de uma bengala, nos demais sentidos que normalmente são mais apurados e até mesmo nos olhos de outra pessoa. Ou de outro companheiro, tão especial que cumpre a missão de conduzi-los por todos os caminhos: o cão-guia.
O cão treinado para ser guia é um facilitador no processo de inclusão da pessoa com deficiência visual. Ele é responsável por oferecer confiança, segurança e promover a autonomia e independência. Além disso, causa interação social e, consequentemente, eleva a autoestima do usuário. Seu papel na vida da pessoa com deficiência visual é tão transformador que ele ganhou uma data mundial em sua homenagem: o Dia Internacional do Cão-Guia, comemorado na última quarta-feira de abril, que neste ano foi dia 28.
Murilo Delgado nasceu com baixa visão e foi perdendo ao longo dos anos, tendo apenas 5% de visão no olho direito. Há dois anos e meio, recebeu o cão da raça labrador Baduska e diz que ela é um divisor de águas em sua vida. “Ela está comigo em todos os lugares, sempre do meu lado: estou trabalhando e ela está junto, vou para a faculdade e ela vai junto, se vou no banheiro ela deita na porta, se estou dormindo, ela está dormindo do meu lado, me guia por todos os caminhos. Eu brinco que hoje meu nome não é mais Murilo, é Murilo da Baduska”, diverte-se.
O processo para que o cão esteja apto a ser guia envolve um trabalho longo e intenso e o custo na sua formação é bastante elevado. Para possibilitar que mais pessoas tenham acesso a um animal que vai melhorar sua vida, o Instituto Magnus realiza um projeto muito especial: treina e doa cães para serem os olhos de pessoas com deficiência visual.
Localizado em Salto de Pirapora, interior de São Paulo, o instituto é o maior centro de treinamento de cão-guia da América Latina, com 15 mil metros quadrados que conta com maternidade, canil, clínica veterinária, centro cirúrgico, área de soltura, lazer e treinamento, prédio administrativo e hotel para receber futuros usuários de cães-guias. Desde sua inauguração, em setembro de 2018, já doou 30 cães para todo o Brasil. Atualmente, existem cerca de 500 inscritos à espera por um cão-guia.
“O trabalho realizado pelo instituto é sem fins lucrativos. Nossa intenção é contribuir com a inclusão social e promover a autonomia das pessoas com deficiência visual por meio da utilização do cão de assistência”, destaca o gerente geral do Instituto Magnus, Thiago Pereira.
Antes de chegarem ao seu destino final, os cães são acolhidos por famílias socializadoras, que os recebem em sua casa, onde ficam pelo período de um ano. O papel dos socializadores é expor o animal às mais diversas situações do cotidiano para promover seu desenvolvimento e acostumá-lo à rotina do dia-a-dia. Além, é claro, de dar a ele tempo e amor.
O desafio dessas famílias é saber que depois desse período, o animal vai seguir sua missão. “Para ser socializadora, a família deve entender que a causa de mudar a vida do deficiente visual é ainda maior do que o amor que ela tem pelo animal e que ele tem que seguir sua jornada, pois alguém que realmente precisa estará esperando por ele”, justifica Elizabeth Chagas, socializadora do programa.
Depois de voltarem das casas das famílias, os cães ainda ficam cerca de cinco meses em treinamento no instituto, para se tornarem aptos a serem guias: aprendem a seguir comandos e desviar de obstáculos. Após formados, poderão ser doados para transformar a vida de pessoas com deficiência visual de todo o Brasil.
Atualmente, 40 cães estão sendo socializados por famílias voluntárias e outros 10 já estão na etapa final do treinamento. Em 2020, o Instituto Magnus entregou 12 cães e para este ano, a expectativa é entregar até 20 animais. A capacidade é para treinar e doar 64 cães-guias por ano.
Para ser uma família socializadora
As famílias socializadoras têm papel fundamental no processo de formação de um cão-guia. Sem elas, o trabalho para e, por isso, é importante incentivar que mais famílias sejam voluntárias. Os socializadores não têm custo nenhum para receber um cão em sua casa, pois todas as necessidades médicas e de treinamento são de responsabilidade do Instituto Magnus. Os voluntários precisam apenas:
– residir na região de Sorocaba, para que o animal possa contar com assistência veterinária de clínicas parceiras;
– acolher o cão por cerca de um ano e se comprometer a levá-lo para conhecer os mais diversos locais;
– ter tempo e disposição para realizar os treinos e rotina do filhote.
Os interessados em serem socializadores ou terem acesso a um cão-guia podem entrar em contato com o Instituto Magnus pelo e-mail contato@institutomagnus.org.
*Fotos:
Créditos: Instituto Magnus
Legendas:
Instituto Magnus.4 – Gustavo Ferraz, instrutor de cão-guia
Murilo.1 e Murilo.2 – Murilo Delgado, Assistente de relacionamento do Instituto Magnus e usuário de cão-guia
Fonte. https://revistareacao.com.br/brasil-tem-mais-de-7-milhoes-de-pessoas-com-deficiencia-visual-para-menos-de-200-caes-guias/?amp=1
Postado por Antônio Brito