* Por Wiliam César Alves Machado
Com avanço da vacinação e os esforços para retorno da normalidade na vida das pessoas, cada vez maiores os arranjos para que possamos em breve retomar rumos das nossas vidas, isso em todos os setores da sociedade.
Temos consciência e sentimos os reflexos negativos, prejudiciais e até mesmo devastadores dos impactos causados pela pandemia do COVID-19, alterando o fluxo dos acontecimentos na vida das famílias em todos os continentes do globo terrestre. Muitos desajustes, dor, sofrimento e mortes, que marcaram a história recente da humanidade e cujas sequelas ficarão abertas na memória coletiva ainda por muitos anos no porvir. Porém, numa prova inequívoca de que tudo passa, ao que se pode perceber gradativamente, estamos entrando na fase de retomada da normalidade, inclusive, na esfera dos serviços públicos, quando se é chegado o momento de arregaçar as mangas na retomada do trabalho. Uma conjunção de iniciativas individuais e sociais para tornar a vida das pessoas mais estável e próxima ao ritmo do antes da pandemia.
A questão que nos preocupa sobremaneira, imputa-se ao imperioso processo de retorno aos atendimentos das pessoas com deficiência nos programas de reabilitação criados pelo Ministério da Saúde e implementados em diversas cidades brasileiras no formato de Centros Especializados de Reabilitação – CER I, II, III e IV, de acordo com as diretrizes da Portaria nº 793, de 2012. Tendo em vista que seus usuários permaneceram sem acesso regular aos atendimentos e tratamentos nos programas de reabilitação, além da dispensação de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção confeccionados em suas oficinas ortopédicas. Independente das medidas preventivas adotadas na pandemia, cabe reiterar o quão prejudicial foi a falta de previsão em políticas públicas para oferta de equipamentos de proteção individual (EPI) para que cuidadores familiares os utilizassem, caso algum ente familiar deficiente e dependente de cuidados contraísse a doença, pois suas dificuldades e limitações físicas, sensoriais, intelectuais ou psicossociais, continuaram sob inteiro cuidado de cada família, em casa. Não fossem a proteção Divina, a caridade de pessoas de coração generoso, a intercessão de líderes religiosos espiritualizados, evoluídos, e alguns profissionais de saúde de grande responsabilidade do ponto de vista ético, a desassistência causaria sequelas ainda maiores, mais graves, irreparáveis.
Não é difícil compreender que, concomitante ao mais restritivo período da pandemia, a incidência de acidente vascular cerebral continuou surpreendendo as famílias, deixando vítimas com sequelas físicas e sensoriais; que nasceram muitas crianças surdas, cegas, com síndrome de Down, autistas e outras com deficiência múltipla, todas elas permaneceram sem cuidados e assistência nos serviços de saúde e reabilitação. Que idosos hipertensos, diabéticos, obesos, pessoas com doenças neurológicas degenerativas, entre outras comorbidades, às vezes, precisam ser submetidas a tratamentos e intervenções cirúrgicas de emergência. Milhares tiveram a mama ou outro segmento corporal amputado, ficaram com colostomia, entre outros, todos carecendo de consulta, avaliação, orientação, visita domiciliar, acompanhamento, necessitando de materiais e equipamentos específicos, ou da confecção de órteses e próteses para que obtivessem melhor qualidade de vida. Outras tantas vitimadas em acidentes automobilísticos, violência doméstica e urbana, continuaram sobrecarregando os serviços hospitalares de urgência e emergência, em escalas até maiores, resultando em mais pessoas com lesão medular, paraplégicos ou tetraplégicos, com potenciais necessidades de cuidados de curto, médio e longo prazos. Afinal, todos se caracterizam por intercorrências de saúde, doença e reabilitação que continuaram ocorrendo em paralelo com as medidas de isolamento da pandemia, contudo, sem contar com reforços na contraparte dos serviços públicos para dar conta da demanda nos programas de reabilitação, criados e implementados anteriormente. Agora, não importa o que não foi feito, viremos a página. Vamos recomeçar tudo e procurar suprir as demandas das famílias que precisam de ajuda para cuidar de seus entes com mais dignidade.
Bom começo seria a mobilização organizacional para o preparo dos gestores, promovendo a capacitação de secretários municipais e estaduais de saúde, tomando providências e sendo mais objetivos para que as pessoas que exercem cargos de liderança nesses setores tomem conhecimento sobre o objeto, natureza e reais diretrizes para o funcionamento pleno de cada programa, uma forma de capacitar quem de competência para a gerência operacional das unidades de saúde e reabilitação. Embora frequente na maioria da administração pública, é inexplicável a presença de gestores que desconhecem as bases e especificidades dos serviços que administram, uma constatação que precisa ser eliminada, para o bem geral da população contribuinte, a menos que se disponham ao aprendizado das nuances teórico-metodológicas que balizam seus fazeres. Em seguida, para não perder o ensejo, darmos início na reestruturação das equipes, procedermos a redefinição das funções de cada profissional e equipes junto aos usuários, a recomposição e readequação dos espaços, ambientes, materiais e equipamentos necessários para o atendimento regular do público-alvo dos programas de reabilitação que tanto necessita de acolhimento, considerados os estragos causados pela pandemia do COVID-19.
* Wiliam César Alves Machado – Prof. Dr. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Três Rios/RJ.
Pesquisador na Área de Saúde e Reabilitação da PcD. E-Mail: wily.machado@gmail.com
** Este texto é de responsabilidade exclusiva de seu autor, e não expressa, necessariamente, a opinião do SISTEMA REAÇÃO – Revista e TV Reação.
Fonte. https://revistareacao.com.br/reflexos-da-pandemia-do-covid-19-na-saude-reabilitacao-e-inclusao-social-das-pessoas-com-deficiencia/
Postado por Antônio Brito