11/09/2025

Conitec recomenda incorporação da estimulação medular no SUS para tratamento de dor crônica

Conitec recomenda incorporação da estimulação medular no SUS para tratamento de dor crônica

Neurocirurgião da Unicamp comenta o impacto da oferta da cirurgia na rotina dos pacientes e na saúde pública

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) recomendou a incorporação da estimulação medular1 (em inglês, a SCS – Spinal Cord Stimulation) para dor crônica ao Sistema Único de Saúde após conclusão da consulta pública em julho. A inclusão do procedimento cirúrgico, que já é utilizado na rede privada e em convênios médicos, representa um avanço importante para ampliar o acesso aos pacientes do SUS. A decisão, no entanto, é apenas o primeiro passo: ainda serão necessários trâmites administrativos até que o tratamento esteja disponível na rede pública.

A terapia consiste na implantação de eletrodos e próximo à medula espinhal, que conectados a um pequeno gerador de pulsos (chamado de neuroestimulador e semelhante a um marcapasso), envia estímulos elétricos capazes de bloquear ou mascarar os sinais de dor antes que cheguem ao cérebro. O procedimento é indicado para pacientes que não obtiveram resposta adequada com medicamentos ou outras intervenções. Segundo pesquisas acadêmicas, a técnica alcança taxas de resposta superiores a 80% e está associada à significativa diminuição do uso de analgésicos e melhora na qualidade de vida.2

Antes de chegar à estimulação medular, o paciente precisa passar por todas as etapas do tratamento convencional para dor crônica, que incluem medicações, fisioterapia e outras terapias não invasivas. “Normalmente, indicamos a estimulação medular quando essas alternativas não proporcionam mais alívio. Muitos pacientes já fazem uso de analgésicos potentes, inclusive opioides como morfina, por longos períodos, e ainda assim continuam com dor incapacitante. A terapia só é aplicada quando está bem indicada, após avaliação detalhada e confirmação de que outras opções não foram satisfatórias”, explica o Dr. Marcelo Valadares, pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Unicamp e especialista nas técnicas de neuromodulação.

Indicada para diversos tipos de dor crônica, a estimulação medular pode beneficiar principalmente pacientes com algumas condições, como: a síndrome pós-cirúrgica da coluna vertebral, caracterizada pela persistência da dor mesmo após operações na coluna; síndrome de dor regional complexa (CRPS), condição em que há dor intensa e persistente, geralmente em braços ou pernas, muitas vezes após traumas ou cirurgias; neuropatias periféricas, em que os nervos periféricos apresentam lesões ou disfunções; dor visceral, relacionada a órgãos internos, como abdômen e pelve; e dores isquêmicas periféricas, decorrentes da má circulação sanguínea nas extremidades.3 Estudos também relatam resultados positivos em pacientes com angina refratária, dor abdominal e dor perineal visceral, ampliando o alcance da SCS para diferentes regiões do corpo e causas de dor. 4

Segundo o médico, a incorporação da estimulação medular ao SUS tem grande relevância social, principalmente por ampliar o acesso de pacientes com dor crônica refratária a um tratamento de alto custo que, até agora, estava restrito em grande parte à rede privada.

Estamos falando de pessoas que convivem com tipos de dores intensas, muitas vezes incapacitantes, que limitam atividades simples do dia a dia e podem levar, inclusive, à dependência do consumo de medicamentos fortes. Ter essa possibilidade no sistema público significa não apenas reduzir o sofrimento individual, mas também contribuir para que esses pacientes recuperem autonomia e qualidade de vida, com impacto direto em sua reinserção social e produtiva”, destaca o Dr. Marcelo Valadares.

Entenda como funciona a cirurgia

De acordo com neurocirurgião funcional da Unicamp, o tratamento é realizado em duas etapas. “Primeiro realizamos um teste de estimulação, com a implantação temporária de eletrodos para avaliar a resposta do paciente. Se houver benefício, passamos para a cirurgia definitiva, em que o eletrodo é conectado a um pequeno gerador implantado sob a pele. O procedimento deixa cicatrizes discretas, a alta ocorre geralmente no mesmo dia ou no seguinte, e os ajustes finos são feitos ao longo das semanas para alcançar o melhor resultado”, explica.

Após o implante, a vida segue normalmente. “Orientamos apenas que o paciente carregue a carteirinha de portador de dispositivo implantável, pois alguns aparelhos podem acionar alarmes em bancos e aeroportos. Os modelos atuais já permitem a realização de exames de ressonância magnética, desde que observadas as condições de segurança em conjunto com o médico”, acrescenta o especialista.

Após o implante, a grande maioria dos pacientes consegue retomar atividades do dia a dia que antes eram limitadas pela dor, como caminhar, trabalhar ou praticar exercícios leves. “O objetivo da estimulação medular é justamente devolver qualidade de vida, autonomia e bem-estar, permitindo que o paciente retome sua rotina com mais conforto e segurança”, conclui o médico.

Referências:

1: Conitec. 144ª Reunião Ordinária – Comitê de Produtos e Procedimentos. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/reuniao_conitec/2025/pautas-144a-reuniao-ordinaria-da-conitec-comite-de-produtos-e-procedimentos

2: Frontiers in Pain Research. “Spinal Cord Stimulation for Chronic Pain: A Systematic Review and Meta-Analysis.” Publicado em julho de 2025. Disponível em: https://www.frontiersin.org/journals/pain-research/articles/10.3389/fpain.2025.1620289/full

3: Medscape – Spinal Cord Stimulation Overview. Disponível em: https://emedicine.medscape.com/article/1980819-overview

4: PubMed – Spinal Cord Stimulation for Chronic Pain. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17341047

Fonte https://diariopcd.com.br/conitec-recomenda-incorporacao-da-estimulacao-medular-no-sus-para-tratamento-de-dor-cronica/

Postado Pôr Antônio Brito. 

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