A educação tem sido um dos setores mais impactados pela pandemia do novo coronavírus. Adotado às pressas na quarentena, o ensino remoto tem desafiado as competências e habilidades dos educadores e profissionais da educação.
Para conversar sobre os desafios que esta situação está causando no trabalho do professor e as sensações que a educação a distância tem provocado, a SOMOS Educação promoveu um webinário sobre o tema, com o professor Gabriel Assis. Neste post, trouxemos alguns pontos importantes dessa conversa. Confira!
MUDANÇA OU TRANSFORMAÇÃO?
Os conceitos de mudança e transformação podem parecer similares num primeiro momento, mas possuem aplicabilidades diferentes, principalmente em cenários como o atual. A principal diferença entre eles é que a mudança se refere a um movimento que fazemos para manter um status quo, as condições que estavam inicialmente postas. Já o processo de transformação diz respeito a novas e melhores maneiras de se fazer algo, em uma efetiva ressignificação e entrega.
Ao perceber que não há nenhum precedente na história da educação para esse momento de pandemia e que manter as coisas como eram antes não é mais uma possibilidade, o processo de transformação começa realmente a fazer sentido. A escola que conhecíamos não existe mais. As novas condições estão postas e é preciso que os educadores se entreguem às ferramentas e recursos possíveis e disponíveis para essa transformação.
AS COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DESENVOLVIDAS
Ao longo do webinário, Gabriel propõe uma série de atividades e momentos de reflexão. Vale a pena conferir o bate-papo na íntegra. Entre os raciocínios propostos, o educador sugere um olhar sobre as próprias trajetórias escolares com relação as competências e habilidades estimuladas e desenvolvidas. Segundo Gabriel, a escola oferece os espaços para esse desenvolvimento, mas a efetiva elaboração de competências e habilidades foi, certamente, uma responsabilidade individual.
Por isso, por meio de uma ferramenta nomeada 1a, 2a e 3a pessoa, Gabriel ressalta a importância do autocuidado e autoconhecimento por parte dos professores, coordenadores e diretores. O trabalho dessas competências influencia diretamente no relacionamento entre os membros da comunidade escolar, tão essencial no período que estamos vivendo. Se não estivermos bem, muito provavelmente as relações que estabeleceremos não serão boas e potentes.
CRENÇAS E CONVICÇÕES
De acordo com Gabriel, são os valores humanos que dão origem às atitudes. Para que isso aconteça, as crenças e convicções são o cerne dessas construções. Pensando nisso, ele sugere uma prática de atividade chamada ‘Eu e meus filtros’, através de um processo auto-avaliativo sobre as crenças pessoais e verdades absolutas.
A proposta é que os educadores percebam suas resistências, como, por exemplo, a de que a educação a distância não funciona, para que seja possível uma ruptura dessas crenças. Só assim será possível adquirir novas visões de mundo. A educação a distância desenvolve (ou tem potencial para desenvolver) muito mais a autonomia do estudante do que a educação presencial.
Além desse exemplo, o educador sugere uma revisão de questões como o erro não fazer parte do processo de aprendizagem, ou, ainda, de que existem diferenças entre educação e ensino, quando se pensa na nomenclatura dos estágios educacionais (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio). Para Gabriel, o processo de desenvolvimento na educação é uma contínua quebra de crenças. É preciso observar que educar é formar crenças à medida em que acontecem conexões entre pessoas e conhecimento de novos mundos.
COMPETÊNCIAS QUE ESTÃO EMERGINDO
Gabriel elenca no webinário seis competências que vão emergindo a partir do trabalho com a ferramenta nomeada 1a, 2a e 3a pessoa e da identificação das crenças e convicções. Essas competências fazem parte de uma crescente que parte do “eu” (indivíduo) e caminha para um “nós” (coletivo). São elas:
- Bem-estar: entendendo que tudo começa com a relação que você desenvolve consigo. Sendo assim, é preciso estabelecer uma relação de cuidado consigo mesmo;
- Confiança: ao cuidar de si, é possível desenvolver a confiança, diretamente relacionada à autoestima. Essa confiança é fundamental para um ambiente escolar que faça sentido para todos e não apenas para o aluno;
- Escuta ativa: a confiança gera a escuta ativa.
- Comunicação: quando eu escuto o outro eu me comunico melhor.
- Inovação: se eu escuto as pessoas, eu conheço suas crenças e consigo trabalhar a inovação.
- Negociação: ouvir o outro e conhecê-lo me ensina a negociar.
O futuro é coletivo, assim como o ambiente escolar. Em uma sala de aula com 30 alunos, as incertezas e complexidades são inúmeras. Dessa maneira, ao compreender a escola a partir do conceito de comunidade, é fundamental que se pense nas comunicações e nas maneiras de se negociar e aprender com as pessoas.
Esse processo de desenvolvimento impacta toda a comunidade escolar, permitindo inovações, ações coletivas e construções alinhadas com o todo. Essas são as competências e habilidades socioemocionais necessárias aos professores dos novos tempos.
Vale lembrar que o processo de desenvolvimento dessas competências é cíclico, visto que a escuta ativa assegura a empatia, por exemplo, e para que ela aconteça é preciso ter uma relação de cuidado e bem-estar, que por sua vez, atribui-se à confiança e assim por diante. É preciso escutar o próximo e a si mesmo para que as decisões tomadas sejam as melhores. Juntos conseguiremos alcançar a excelência de ensino sonhada por tantos educadores.
Fonte https://www.somoseducacao.com.br/competencias-e-habilidades-dos-professores-para-os-novos-tempos/
Postado por Antônio Brito